Reflexão do Evangelho - Terça-feira 26 de Maio

Reflexão do Evangelho
Mc 10, 28-31 - A recompensa pelo desprendimento
Terça-feira 26 de Maio

              Talvez uma das coisas mais importantes que a vida cristã apresenta seja o desprendimento ou a renúncia. O exterior da realidade material esconde sua grandeza espiritual interior. Assim graças ao poder da renúncia, a visão das coisas adquire uma natureza mística e o ser humano olha o mundo sob um ponto de vista secreto que dá a chave para uma nova compreensão da vida; “o corpo torna-se ligeiro, alegre, e munido de asas”, escreve Evágrio. O que está no homem é mais forte de tudo o que está no mundo e, na liberdade da renúncia, ele encontra o segredo de sua fecundidade. Daí o fato de S. João Batista ser representado nos ícones com asas.
Muitos outros termos, que remontam às tradições pré-cristãs, foram adotados pelos cristãos para designar a renúncia, como purificação, ascese, mortificação e domínio de si mesmo. A renúncia, em sentido espiritual, não é um termo negativo; ela permite olhar para as coisas comuns e para as pessoas comuns através da luz mística, que deixa, no dizer de Orígenes, “o divino Mestre liberar do meio das areias, presentes no fundo da alma, o poço de água viva, na qual se vislumbra a imagem de Deus escondida em nós”.
       A renúncia não resulta do medo de viver ou do ócio da vida, como talvez interpretasse Nietzsche, mas brota de um coração livre de toda ganância, movido pelo desejo de estar aberto a Deus e ao próximo. Expressão da bela aliança entre o amor e a liberdade espiritual, ela é a resposta humana ao amor de Jesus. Pela renúncia, obstáculos insuperáveis são vencidos e chega-se a participar da recompensa prometida para o final dos tempos. Nesse sentido, S. João Cassiano observa: “Quem renuncia, por causa do Senhor, pai, mãe, filho, para entrar no verdadeiro e puro amor de todos os servidores de Cristo, recebe cem vezes mais em irmãos e pais. Porque em vez de um só pai, de um só irmão, terá doravante uma multidão que está unida a ele pelos laços de afeto muito mais ardente e elevado”.

Aos que interpretam a renúncia como negação da “vontade de viver”, diríamos ser ela resposta de amor, fruto da audácia de se viver na bondade e na misericórdia divina. Na realidade, ela libera a força interior da natureza humana em seu desejo de felicidade e de comunhão com Deus, e nossos corações encontram alegria, paz e tranquilidade interior (hesequia). Graças à renúncia, passamos através da estreiteza da natureza humana para uma plenitude de vida e de doçura, no amor sincero até mesmo aos nossos inimigos. Portal para uma vida plena, ela nos leva a proclamar que Deus continua a abençoar a criação e a dizer que ela é sinal da bondade divina. 

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