Celebração Pascal – 2021
Celebração Pascal – 2021
No monte das Oliveiras, Jesus ora. Não longe
dele, “à distância de um arremesso de pedra”, os Apóstolos dormem. Já se ouvem,
descendo de Jerusalém e subindo o monte, os passos dos soldados...
Prostrado
em terra, “Jesus ora com mais insistência ainda e o suor se lhe tornou
semelhante a espessas gotas de sangue que caíam por terra”. A morte é
pressentida como iminente.
Levantando-se,
vai aos discípulos, como que à procura, escreve Pascal, “de companhia e
conforto da parte dos homens”. Triste, aflito, espera pela solidariedade dos
três Apóstolos: Pedro, Tiago e João, que, tomados pelo cansaço, se deixaram
vencer pelo torpor do sono. Simplesmente lhes diz: “Dormi agora e repousai”. Sente-se só. E é sozinho que Ele enfrentará a
sua hora.
Ao
retornar à oração, dos seus lábios brotam murmúrios de uma alma aflita: “Abba,
Pai, se possível afaste de mim este cálice”. Sente a fraqueza natural da morte,
porém, ao contrário de Adão, Ele exclama: “Pai, não se faça o que eu quero, mas
sim o que tu queres... Não a minha vontade, mas a tua”. Abandona-se ao amor do
Pai, força que lhe permitirá afrontar e vencer a morte.
Súbito,
o alto da colina se ilumina e um apressurado grupo de soldados aproxima-se,
portando tochas acesas. À frente, conduzindo-os, Judas, que, após beijá-lo,
saúda-o: “Salve, Mestre!”. Nenhuma
reprimenda... apenas um último apelo: “Amigo, para que estás aqui? Com um beijo
entregas o Filho do homem”. Tomados de pânico, os discípulos se dispersam.
Seguem-no de longe, como é o caso de Pedro e João.
Arrastado,
vilipendiado, Jesus é levado pelos soldados e deixado na prisão. É o início da
paixão, que culminará com a crucifixão.
Elevado
na cruz, seus olhos não se turvam, doces e serenos, voltam-se para seus
algozes; sua voz, entrecortada de dores, supera as zombarias dos acusadores:
“Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem”. Seu semblante reflete ternura
e bondade.
Seu
olhar se volta para a Mãe, e, com o amor e a reverência que Ele lhe dedicou
durante trinta e três anos, diz ao discípulo amado, presença de todo verdadeiro
discípulo: “Eis tua Mãe”, e para sua Mãe: “Eis teu filho”. Maria o abraça,
afago materno.
Por
volta das três horas da tarde, após dizer: “Pai, em vossas mãos entrego o meu
espírito”, com voz forte, brada: “Tudo está consumado”. A terra treme, fendas
aparecem nos rochedos e o centurião, que ouvira as suas últimas palavras,
exclama: “Na verdade, Ele era o Filho de Deus”.
Elevado
na cruz, Ele atrai todos a Ele. A Lei não é abolida. Plenamente, ela se realiza
na vida dos que acolhem Sua herança espiritual. Se a Lei condena matar, roubar,
eles a superam, vão além, assumem a atitude de amar e de respeitar até seus
próprios inimigos.
Exclama
Santo Agostinho: “O aeterna Veritas, et
vera Caritas, et cara aeternitas, Tu es Deus meus!” Através dos tempos, ele é “o Doutor da
Caridade”; para outros, o Doutor da Verdade”. De fato, ele é um e outro, realmente
associados. No seu agir, no seu pensar, na sua profissão de fé, Agostinho
associa sempre a verdade e a caridade, luzes que emergem da Revelação e
penetram sua alma até o mais íntimo, onde Deus reside sem nela se encerrar.
Comemoramos
a Páscoa, “passagem de Jesus deste mundo ao Pai”. A salvação e a paz descem até
nós, penetram nossa vida, transformam-nos em arautos da Boa-Nova do Evangelho.
Com Santo Agostinho dizemos: “Amemo-nos também nós, uns aos outros, como Cristo
nos amou e se entregou por nós”.
Unidos em oração e confiando na iniciativa
misericordiosa de Deus, a todos, uma feliz e abençoada Páscoa!
+Dom Fernando Antônio Figueiredo, ofm.
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