Feliz e abençoada Páscoa!

                                                      

                           

         No alto do monte das Oliveiras, Jesus ora. Não longe dele, “à distância de um arremesso de pedra”, os Apóstolos dormem. Já se ouvem, descendo de Jerusalém e subindo o monte, os passos dos soldados... 

A morte é pressentida como iminente. Prostrado em terra, “Jesus ora com mais insistência ainda e o suor se lhe tornou semelhante a espessas gotas de sangue que caíam por terra”.  

“Levantando-se, escreve Pascal, como que à procura de companhia e conforto da parte dos homens”, Jesus vai aos discípulos. Triste, aflito, espera pela solidariedade dos três Apóstolos: Pedro, Tiago e João, que, tomados pelo cansaço, se deixaram vencer pelo torpor do sono. Não os repreende, simplesmente lhes diz: “Dormi agora e repousai”.  Jesus sente-se só. E é sozinho que Ele enfrentará a sua hora.

 Ao retornar à oração, dos seus lábios brotam murmúrios de uma alma aflita: “Abba, Pai, se possível afaste de mim este cálice”. Ele sente a fraqueza natural da morte, porém, ao contrário de Adão, exclama: “Pai, não se faça o que eu quero, mas sim o que tu queres... Não a minha vontade, mas a tua”. Abandona-se ao amor do Pai, força que lhe permitirá afrontar e vencer a morte.

Súbito, o monte se ilumina, com tochas acesas, aproxima-se um apressurado grupo de soldados. À frente, conduzindo-os, o Apóstolo Judas, que, logo após beijá-lo, saúda-o dizendo: “Salve, Mestre!”.  Nenhuma reprimenda... apenas um último apelo: “Amigo, para que estás aqui? Com um beijo entregas o Filho do homem”. Assustados, temerosos, os discípulos se dispersam. Seguem-no de longe, como é o caso de Pedro e João.

Arrastado, vilipendiado, Jesus é conduzido pelos soldados à prisão. Início de sua Paixão, que culminará com a crucifixão.

Na cruz, seus olhos, doces e serenos, sem se turvarem, voltam-se para os algozes; e, superando as zombarias dos acusadores, ouve-se uma súplica: “Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem”. Seu semblante reflete ternura, bondade.

Seu olhar se volta para a Mãe, e, com o amor e a reverência que Ele lhe dedicou durante trinta e três anos, diz ao discípulo amado, que representa seus discípulos: “Eis tua Mãe”, e para sua Mãe: “Eis teu filho”. Maria o abraça, afago materno.

Por volta das três horas da tarde, após dizer: “Pai, em vossas mãos entrego o meu espírito”, com voz forte, brada: “Tudo está consumado”. A terra treme, fendas aparecem nos rochedos e o centurião, que ouvira as suas últimas palavras, exclama: “Na verdade, Ele era o Filho de Deus”.

Elevado na cruz, Ele atrai todos a Ele. A Lei não é abolida. Realiza-se plenamente nos que O acolhem. Se a Lei condena matar, roubar, sem negá-la, Ele a supera preceituando amar e respeitar seus próprios inimigos.

Exclama Santo Agostinho: “O aeterna Veritas, et vera Caritas, et cara aeternitas, Tu es Deus meus!”  Através dos tempos, se para uns, ele é “Doutor da Caridade”; para outros, ele e “Doutor da Verdade”. De fato, no seu agir e pensar, como em sua profissão de fé, Agostinho associa a verdade à caridade, luzes da Revelação, que penetram sua alma lá onde Deus reside sem nela se encerrar.   

Hoje, comemoramos a Páscoa, “passagem de Jesus deste mundo ao Pai”. A salvação e a paz nos envolvem e nos transformam em arautos da Boa-Nova. Com Santo Agostinho proclamamos: “Amemo-nos também nós, uns aos outros, como Cristo nos amou e se entregou por nós”.     

 

Unido em oração e confiando na iniciativa misericordiosa de Deus, desejo a todos uma feliz e abençoada Páscoa!

 

                             +D. Fernando Antônio Figueiredo, ofm.


 

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Reflexão do Evangelho de Lc 9, 51-56 - Jesus não é acolhido pelos samaritanos - Terça-feira 30 de Setembro

Reflexão do Evangelho de Lc 11, 5-13 – A oração perseverante (amigo importuno) - Quinta-feira 09 de Outubro

Reflexão do Evangelho de Jo 7,37-39 - Promessa da água viva - Sábado 07 de Junho