Reflexão do Evangelho – Domingo, 18 de fevereiro
Reflexão
do Evangelho – Domingo, 18 de fevereiro
Mc 1,12-15
- Tentação de Jesus no deserto
O
projeto de Deus é complexo, estende-se através da história, desde o povo de
Israel até o tempo da Igreja, que tem suas raízes na vida e missão de Jesus. No
início de sua missão, guiado pelo Espírito Santo, Jesus é conduzido ao deserto,
espaço de recolhimento e de oração, onde permaneceu durante 40 dias. Submeteu-se
a essa provação, espontaneamente, por uma opção livre e pessoal.
Humanamente,
colocou-se numa situação muito difícil de sobrevivência, sem comer, com o risco
de desidratar-se. Alguns diriam: é uma loucura! Exausto, faminto, Jesus orava,
meditava, falava com o Pai, num processo de intensa interiorização, que elevava
o seu espírito e o conduzia à sublimação de seus desejos e sentimentos. Momento
de purificação e despojamento total que assinala sua subida espiritual ao monte
de Deus para o misterioso encontro com o Pai.
Sem
titubear, no pleno domínio do seu raciocínio, Ele rejeita as ilusões e
pretensões de um futuro prazeroso e tranquilo, apresentado pelo Tentador, e lhe
diz: “Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que sai da boca de
Deus”. Prenúncio das contradições, acusações e ataques que Ele iria sofrer ao
longo de sua vida pública. Mas Jesus não se desvia do cumprimento da vontade do
Pai e, consequentemente, de sua missão salvadora.
Daí
se infere que a tentação não está ligada diretamente à ideia do pecado, é uma
provocação, que visa pôr Jesus à prova. O modelo típico é Abraão, que foi testado
em sua confiança em Deus, antes de receber a promessa de “uma posteridade tão
numerosa como as estrelas do céu e quanto a areia que está na beira do mar” (Gn
22,17). Aliás, o teor das tentações de Jesus, a primeira, que sugere
transformar a pedra em pão, e a terceira, que lhe propõe atirar-se do alto do
pináculo para ser acolhido pelos anjos, visa provar quem é Ele. A segunda
tentação, que se realiza no alto de uma montanha, donde se descortinam os
reinos do mundo, insinua a ideia de um poderio político, em âmbito mundial.
Sem
se deixar levar pela força dos impulsos, Jesus se mantém sereno, ultrapassa o
presente e se orienta para algo maior e diferente: a absoluta confiança no Pai.
Os quarenta dias no deserto lembram Israel no deserto, Moisés no monte Sinai, a
Quaresma, tempo de preparação para a Páscoa, e mais, a vida pública de Jesus,
também a nossa, irredutíveis a uma realidade material, limitada. Deus é aquele
que, vindo do futuro, oferece o pão atemporal, a Palavra, e abre nosso olhar
para irmos ao encontro dele, cheios de esperança. Mais do que a natureza
física, há em nós um aspecto pessoal que expressa a unidade interna e a relação
com Deus e com nossos semelhantes.
Vencido,
o Tentador se afasta, ao som de uma voz que lhe diz: Ele saciará a fome
espiritual de todos aqueles que irão partilhar seu pão com os famintos e pobres
do mundo, e, no tempo oportuno, entregando-se ao Pai, ressuscitará no terceiro
dia. As vozes do coral invisível, ao fundo, tornam-se sempre mais fortes; entoam
as bem-aventuranças, do amor e da misericórdia, do perdão e da salvação para todos
os corações humildes e simples.
†Dom
Fernando Antônio Figueiredo, OFM
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