Reflexão do Evangelho - Domingo, 07 de outubro
Reflexão
do Evangelho
Domingo,
07 de outubro
Mc
10,2-12 - Perguntas sobre o divórcio
A acalorada discussão, sobre o motivo
que legitimava o repúdio da própria mulher, girava ao redor das determinações
do Deuteronômio, cujas expressões eram pouco precisas. Segundo a escola de
Shammai, o texto bíblico devia ser interpretado em seu sentido estrito: o
divórcio só seria permitido em caso de uma conduta deveras desonrante. A escola
de Hillel, por sua parte, o interpretava num sentido mais amplo, segundo o qual
se podia repudiar a mulher por não importa qual motivo.
No
mundo judaico, a mulher ocupava um lugar, relativamente, importante na
sociedade e sua relação de reciprocidade e mútua responsabilidade com o homem, na
caminhada para Deus, podia ser considerável. Contudo, como era comum entre os
povos antigos, prevalecia a mesma mentalidade de supremacia do marido. No Cristianismo,
ao proclamar a igualdade fundamental do homem e da mulher, diante de Deus e da
Lei moral, mais e mais, se evidenciou o respeito e a consciência de sua
dignidade.
Daí
a capciosa pergunta feita pelos fariseus a Jesus: “É lícito repudiar a própria
mulher por qualquer motivo que seja? ”. O objetivo é arrastá-lo para uma contenda.
Jesus sempre ensinou a primazia do amor e da atitude espiritual interior. Por
isso, ciente do que se passava em seus corações, Ele não se limita a
interpretar a Lei; ultrapassa-a e a situa no quadro dos desígnios amorosos do Pai.
Com
sabedoria e cordialidade, Ele rejeita a casuística rabínica e remete seus interlocutores
ao gesto inicial da criação: o amor de Deus, que confere à mulher o dom de ser
mãe, seja no sentido físico da palavra, seja em seu sentido espiritual e
sublime. Ele vai além. O decisivo não é o relato temporal da criação, mas o
princípio absoluto e eterno da criação em Deus, que atua de modo transtemporal,
visando o futuro, descrito como promessa da perfeita unidade no amor.
Como
se depreende: para além de sua realidade circunstancial, o matrimônio insere-se
na promessa de Deus, na aurora da vida, e na realização de Seu divino e amoroso
desígnio.
Porém,
ao longo da vida, surgem percalços, dificuldades. Escreve S. João Crisóstomo:
“A cada instante, os cônjuges são reenviados à ação misericordiosa de Deus, que
os renova e lhes permite, em caso de queda, recomeçar o seu caminho, com nova
esperança”. De fato, ao rigorismo de Novaciano, em meados do século 3º, que
propunha uma Igreja perfeita e pura, os Padres da Igreja contrapõem uma Igreja
misericordiosa e benévola, que tem suas portas abertas para o pecador
arrependido e disposto a preservar as palavras do Senhor: “O que Deus uniu, o
homem não separe”. Palavras, que constituem para eles, mais do que uma norma
jurídica, um princípio fundamental a ser respeitado e observado.
+Dom
Fernando Antônio Figueiredo, ofm
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