Reflexão do Evangelho - Domingo, 28 de outubro
Reflexão
do Evangelho
Domingo,
28 de outubro
Mc
10,46-52 - Cura do cego de
Jericó
Deus não se manifesta como
um
objeto, que possa ser apreendido
pelo entendimento, mas sim como uma pessoa, uma presença, que, para além de
todo conceito, toca o interior do ser humano, numa união de amor. É a supremacia
do amor (agápe) sobre o conhecimento (gnosis), na relação espiritual e pessoal
entre Deus e o homem.
Isto
se vê, de modo tocante, na cena da cura de um cego, que se coloca nas mãos
misericordiosas de Jesus. Atitude de reverência, nascida da fé, que abrange a
instância interior do coração, domínio misterioso onde, para lá dos conceitos e
ideias, estabelece-se a comunhão no amor.
Ao
sair da cidade de Jericó, um cego, chamado Bartimeu, sentado à beira do
caminho, suplica a Jesus: “Filho de Davi, Jesus tem compaixão de mim! ”. Ao
ouvi-lo, Ele se detém e pergunta-lhe: “O que queres que eu te faça? ”. Trêmulo
no corpo, firme no espírito, o cego responde: “Senhor, que eu possa ver
novamente”. Se, primeiramente, ele O chama de Filho de Davi, o Messias, agora,
chama-O de Senhor.
Verdadeira
profissão de fé. Momento da graça divina. Não se pode deixar passar aquele
momento. Então, deixando seu manto, “o cego deu um pulo e foi até Jesus”. Segundo
S. Beda, esse fato “simboliza a Igreja primitiva dos gentios, os quais, almejando
a luz de Cristo, seguem os ensinamentos do Evangelho, desnudos, isto é, despidos
dos poderes do mundo, o que os torna merecedores da posse do tesouro eterno no
céu”.
O Senhor se volta para ele e, em sua
bondade, diz: “Vai, a tua fé te curou”. Só carinho. Abriram-se seus olhos corporais,
também “o olho interior”, início de uma vida espiritual, compreendida como
relação com o Deus pessoal, que, num ato gratuito, se dá por amor.
Pondo-se
no lugar do cego, fugindo de um saber científico, transformado, por vezes, numa
mundividência e ideologia, camufladas, exclamamos com Clemente de Alexandria: “Ponhamos
fim ao esquecimento da verdade, rechaçando a ignorância e a treva, que nos
impedem a visão espiritual. Contemplemos a verdade de Deus”.
Pasmos
e extasiados, nós reconhecemos que, movido pelo sopro vital, proveniente do insondável
abismo do amor e da sabedoria, o cego abriu o seu coração à misericórdia divina.
“E ele O seguia pelo caminho, glorificando a
Deus”. Crescimento, sem fim, no conhecimento do vulto de um Deus, que sempre se
revela, permanecendo Mistério: aqueles que não veem recuperam a vista, e
aqueles que veem se tornam cegos: a razão necessita escutar o que é ser justo,
reto, verdadeiro, se não quiser ficar surda, muda e cega.
+Dom Fernando Antônio Figueiredo, ofm
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