Reflexão do Evangelho – Domingo, 23 de julho


Mt 13,24-30 – A parábola do joio, da semente boa e má




Através da parábola do joio, Jesus indica a necessidade de um agir correto do ponto de vista social e cultural, o que nos faz lembrar o anúncio dos profetas, que traçavam a imagem “utópica” de um mundo futuro de justiça e de paz. Na realidade, o Mestre conta a parábola de “um homem, que semeou boa semente no seu campo e quer ele durma, quer esteja acordado, de noite e de dia, a semente germina e cresce”. É a semente do bem, expressão da bondade divina, presente em todo ser humano, pois tudo quanto Deus criou é bom. A bondade não só define seu ser, mas também a possibilidade de ser bom em suas ações. Fato que ele ama e ao mesmo tempo teme, pois é um compromisso de significado profundamente existencial-religioso: corresponder ou não ao bem, sintonizar-se com Deus ou dele se distanciar. A partir daí o pecado não se reduz a uma transgressão moral; transportado à esfera do desapego do eu e da fé em Deus, ele se torna uma maneira de ser, uma “enfermidade” provocada pelo inimigo, o estrangeiro, o “adversário” do Povo de Deus, que busca impedi-lo de reconhecer na história a salvação comunicada por Cristo.   
 À primeira vista, parece não ser fácil sustentar a ideia de uma convivência pacífica entre ambos. No entanto, situando a questão na órbita eclesial-espiritual, S. Agostinho apresenta a Igreja como lugar na qual convivem os santos e os pecadores, o bem e o mal, não como realidades estáticas, mas dinâmicas, porquanto ambos são convocados a crescerem e a se moverem, graças à ação misericordiosa de um Deus, insuperável em longanimidade. Nesse sentido, o mal ou o pecado não é, simplesmente, a transgressão de uma lei, uma negação moral, mas se situa na esfera religiosa da não-fé, face negativa da fé de Abraão. Mais do que uma negação, o pecado é uma maneira de ser, é a possibilidade de o homem se colocar em desarmonia com a integridade de sua pessoa; é uma “fraqueza” na tentativa de ser sempre mais si mesmo.  
Por conseguinte, a parábola fala da misericórdia divina, que vem ao encontro do homem, no desejo de levá-lo à sua realização integral. Cabe ao homem dar espaço em seu coração para a boa semente e não deixar crescer nele o joio, que o afastaria do ato benevolente de Deus e da consciência de que ele não é nada para si mesmo enquanto não for algo para outrem. De fato, representado pelo joio, o mal pode infectar seu coração, gerando desconfiança e hostilidade, para afastá-lo de Deus e destruir a reciprocidade e mesmo a comunhão fraterna. Embora Deus respeite a decisão final do homem, em suas opções concretas e temporais, Ele está pronto a lhe oferecer novos caminhos, pois, diz Orígenes: “Se o ser de Deus é inesgotável, nele, o ser humano estará sempre descobrindo novas possibilidades de união no amor”.


+Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM

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