Reflexão do Evangelho – Domingo, 20 de agosto


Lc 1,39-56 - A visita de Maria à sua prima Isabel



                 
Ao iniciar o relato da visita de Maria à sua prima Isabel, com a expressão “naqueles dias”, S. Lucas nos remete às origens da fé cristã. A assiduidade da oração impedia que, em Maria, mesmo as mínimas raízes do pecado encontrassem espaço em sua alma, sempre mais cândida e transparente, como um belo jardim irrigado pela graça divina. Nela, brotavam as mais belas virtudes de simplicidade e generosidade. Aberta à vontade do Pai, ela é portadora por excelência do Espírito Santo, que faz dela morada do Filho de Deus, Jesus.
Em oração, ela ouve a mensagem misteriosa do Anjo, que lhe comunica o fato de sua prima Isabel, já de idade avançada, ter concebido uma criança. Com toda prontidão, refletindo em seus olhos caridade e carinho, ela se põe a caminho da casa de sua prima para servi-la. Mais tarde, cantam os poetas de Deus: “Por onde Maria passava, iluminavam-se os campos”, e ela “seguia no passo alegre da obediência e na agilidade do temor de Deus” (S. Bento). S. Ambrósio por sua vez dirá que “ela é movida pela alegria de servir, levada pela piedade em cumprir seu dever de parente e pela pressa do júbilo. Repleta de Deus, como não alcançaria vivamente os cumes da caridade? O dom do Espírito Santo ignora toda demora! ”.
        Ao ver Maria, Isabel, com intensa alegria, vislumbra, na fina luz do entardecer, uma claridade radiante, que revestia sua jovem prima. Às palavras de saudação de Maria, a criança estremece em seu seio, e “ela ficou cheia do Espírito Santo”, dom de Deus, dom precioso, que, ao envolvê-la, santifica o filho, João Batista! Mais tarde, o místico alexandrino, Orígenes, proclama: “A voz da saudação de Maria, que chega aos ouvidos de Isabel, plenifica João com o Espírito Santo; ele estremece e a mãe se torna como que a boca do filho, profetizando: ‘Tu és bendita entre as mulheres, e o fruto de teu ventre é bendito’”.
As duas mulheres louvam e agradecem a Deus: se dos lábios de Isabel brota um cântico ardente, que lhe vinha do coração, Maria entoa o Magnificat, um dos mais belos hinos de louvor, no qual ela expressa seu júbilo e agradecimento a Deus por ter se dignado olhar para ela, pequena e humilde criatura. Sem nada atribuir a si mesma, ela louva a Deus, autor das maravilhas que se realizam nela e, através dela, na humanidade toda inteira. Personalizando os humildes e pobres, ela rende ação de graças por todos os benefícios concedidos pela divina misericórdia.
 Eis que ambas se entreolham, Maria louva a Deus e Isabel a proclama Mãe de Jesus, “meu Senhor”, Pessoa em comunhão, que, ainda no seio materno, santifica João Batista com “o fogo” de sua divindade. Dia memorável, dia da incomparável intervenção divina na história humana; dia em que o Infinito entra no mundo finito para chamar todos à casa do Pai e restaurar, na dignidade de filhos de Deus, a humanidade toda inteira.


†Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM

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