Reflexão do Evangelho – Domingo, 27 de agosto
Mt
16,13-20 - Confissão do Apóstolo Pedro
Jesus ia a Jerusalém,
acompanhado por seus Apóstolos, quando perto da bela cidade de Cesareia,
reedificada pelo tetrarca Felipe, no ano 3 a.C., lhes pergunta: “Quem dizem os
homens que eu sou? ”. De acordo com a opinião popular, que o identificava com
um dos profetas do passado, “responderam-lhe: uns afirmam que és João Batista,
outros que és Elias, outros, ainda, que és Jeremias ou um dos profetas”. E vós,
o que pensais? Quem sou eu, na vossa opinião? “Para além do que se via nele,
diz S. Hilário, os Apóstolos pressentem algo mais”.
Até
aquele instante, Jesus se limitara a pedir aos Apóstolos que observassem o que
Ele fazia e julgassem por eles mesmos. Agora, finalmente, chegara o momento de
uma conversa esclarecedora sobre sua missão e eles intuíam que o Mestre
esperava deles uma resposta direta, fruto de uma longa convivência. A resposta
é dada por Pedro, em nome de todos: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus”.
Anteriormente,
numa perspectiva temporal, eles também o tinham chamado de Messias, pensando
ser Ele aquele que iria restaurar o reino de Israel. Pedro, porém, vê o que a
outros escapa. Sua resposta leva Jesus a dizer-lhe: “Bem-aventurado és tu, porque
não foram o sangue nem a carne que te revelaram isto, mas sim o meu Pai que
está nos céus”. Jesus estabelece uma correlação íntima entre a busca humana e a
revelação divina, diriam os teólogos, como H. de Lubac, entre a “natureza” e o
“sobrenatural”. No entanto, alguns se sentem repelidos pela ideia do caráter
absoluto dessa entrega total de Pedro a Cristo, que lhes parece pouco viável,
em vista das múltiplas e bem conhecidas solicitações da vida. Mas a relação
entre ela e essas solicitações não é excludente, pois ambas estão abertas a uma
purificação e fusão, e o ser humano está orientado para uma universalidade
efetiva, possuindo a capacidade de ser tocado pela verdade e de abrir-se, sempre
mais, ao que lhe é próprio.
A
seguir, ao dizer: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei minha Igreja, e as
forças inimigas não conseguirão destruí-la”, Jesus lhe confere uma importante
tarefa a ser realizada. Como seu representante, graças à fé professada, ele
será o princípio externo da estabilidade, da continuidade e da unidade da
comunidade cristã, que supera a “qahal”,
assembleia dos fiéis do Antigo Testamento, e passa a significar a reunião de
todas as gentes no único Povo de Deus. Embora Pedro não fosse ainda capaz de
entender todo o significado daquelas palavras, “é tocante, escreve Orígenes,
pensar que Pedro tenha dito ao Salvador: ‘Tu és o Cristo’; mais impressionante
é que o tenha reconhecido ‘Filho do Deus vivo’. Caso nós as digamos, é porque elas
nos foram reveladas pelo Pai, e nós, como Pedro, seremos também proclamados ‘bem-aventurados’”
(Sobre Mt XII, PG 13,995). Eis que um novo céu e uma nova terra, um mundo
renovado em Cristo, chega até nós através da Escritura e dos sacramentos da
Igreja.
†Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM
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