Reflexão do Evangelho - Domingo, 10 de setembro
Mt 18,15-20 -
Correção fraterna
Na
purificação do Templo, as palavras de Jesus transcendem o conteúdo histórico do
Templo e remetem seus ouvintes à ideia de ser Ele próprio o lugar de encontro
com Deus: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou no meio
deles”. O importante não é o momento em que se dá o encontro, mas sim a
experiência de Deus como o atuante que realiza a nossa salvação e nos torna
servidores da Palavra. Então, o que importa não é apenas a descoberta de uma
verdade, mas a confiança em Deus e a imersão na realidade religiosa, que não
nos permitem contentar com a mera religiosidade, muitas vezes, alimentada por
símbolos e expressões secundárias.
Sem
dúvida não podemos ignorar que o encontro com Deus é viver, no amor, a comunhão
com os seus semelhantes. Martin Buber é enfático ao afirmar: “Não a fusão na
unidade, mas sim o encontro é o constitutivo básico da experiência humana do
ser”. Se a unidade de fusão pode gerar uma identidade confusa e informe, a
unidade do amor leva a respeitar o dinamismo de cada pessoa e a estabelecer
comunhão com ela. Consequentemente, a exigência de corrigir uns aos outros não
resulta simplesmente de um procedimento social ou de uma reconciliação superficial;
é fruto de uma atitude mística, nascida do coração de quem vive o amor
misericordioso de Deus.
Quem
é guiado por esse amor (ágape), não
fará nada que possa prejudicar a vida do seu semelhante, e não se fechará
jamais dentro de espaços estanques, pois reconhece que é só abrindo-se ao outro
que ele se aproxima de sua própria unidade e totalidade. Daí se segue a
necessidade de viver a paz e a comunhão, que postulam, por sua vez, a correção
fraterna como esforço para reorientar para Deus aquele que errou ou praticou o
mal. Dizia São Jerônimo: “Não só temos o poder de perdoá-lo, mas somos
obrigados a fazê-lo, pois nos foi ordenado perdoar os que nos ofenderam”.
De
modo simples e direto, o Mestre explicita a correção fraterna, mediante três
etapas possíveis: inicialmente, movido pelo amor e por sincera solicitude, aquele
que é ofendido ou percebe o erro de um irmão busca ajudá-lo, através do diálogo
pessoal; não obtendo resultado, pede a presença de mediadores, amigos ou
parentes, que servirão de agentes e testemunhas de reconciliação. Como último
recurso, caso tenham sido inúteis os passos dados, ele recorrerá aos representantes
da Igreja, aos quais foi dado o poder de agir em nome da comunidade. Sem
diminuir a intenção de recuperá-lo, eles poderão até excluí-lo da comunidade, porém,
sem descurar da recomendação dada por S. Agostinho: “Ainda que ele não seja
considerado mais, pela Igreja, como um dos teus irmãos, nem por isso deixes de
te preocupar com a sua salvação”.
Naturalmente, como bem sabemos, prevalecem sempre
no coração dos irmãos o afeto e o amor ao seu semelhante, que lhes permitem, graças
ao ethos da tolerância, reconhecer nele
lampejos da verdade: sinais da ação misericordiosa e salvadora de Deus.
†Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM
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