Reflexão do Evangelho – Domingo, 05 de novembro
Mt
5,1-12 - As bem-aventuranças
Numa bela manhã de primavera, o sol
inundava a planície em que se encontravam Jesus, ao seu redor, os Doze, o grupo
dos discípulos e o povo que Ele tanto amava. Em suas mentes, estavam ainda
presentes as primeiras palavras, ditas por Ele, no início de sua missão:
“Convertei-vos e crede no Evangelho”. Agora, em sua pregação, Ele quer tornar
presente, no íntimo da vida de seus ouvintes, a caridade em sua forma mais
autêntica e pura.
Jesus
fala com doçura e simplicidade; trata-se do cumprimento do sentido supremo da
Lei, que Ele veio não para abolir, mas para cumprir, e da intenção mais íntima
do ser humano: a felicidade, guardada no “coração”, justamente “onde, salienta S.
Leão Magno, a mão veloz do Verbo escrevia os decretos da nova Aliança”, as
bem-aventuranças. A Lei é interiorizada, a ação imprevisível de Deus ultrapassa
a insipidez da casuística, conduzindo todos à justiça e à misericórdia, e Jesus
dá como norma de vida a perfeição do Pai: “Sede perfeitos como vosso Pai
celestial é perfeito”.
Jesus,
o novo Adão, revela a centralidade da Lei: o mandamento do duplo amor, o amor a
Deus e a proeminência do amor ao próximo, amor comprometedor, fruto de uma relação
harmoniosa com Deus e das pessoas entre si. Eis, no dizer de S. Gregório de
Nissa, “a vida pura e sem mistura das bem-aventuranças”. No alto da montanha, o
novo Moisés transmite aos seus seguidores a força do amor e da solidariedade, que
permite viver a verdade e a justiça. Assim, qual Profeta dos últimos tempos, Ele
protesta contra o fato de o povo ter se afastado do Pai e da Aliança, distanciando-se
da situação original de igualdade e de comunhão: Jesus anuncia e denuncia.
As
bem-aventuranças falam de despojamento e de pobreza, e atestam que a riqueza
essencial é não estar fechado sobre si mesmo, mas estar em perpétua
interlocução com os outros e com Deus: convite para participar do coro
universal de louvores a Deus. Sua voz, sonora e forte, ressoa, e nos corações
de seus seguidores calam-se as paixões, e os movimentos da alma se transformam
em caridade, caminhos que nos introduzem na Terra Prometida: “Então, o direito
habitará no deserto e a justiça morará no vergel. O fruto da justiça será a
paz, e a obra da justiça consistirá na tranquilidade e na segurança para
sempre” (Is 32,15-17).
Em
forma de amor, de perdão e de misericórdia, as bem-aventuranças instauram a verdadeira
nova criação de Deus, que misteriosamente presente na história conduz a
humanidade ao seu sentido final. O Infinito é acolhido dentro do finito, reviravolta
escatológica de todas as relações humanas, e de profundo respeito à natureza. Os
pobres, os famintos e os tristes, os injustiçados e os perseguidos, são
exaltados, início da radical mudança escatológica de um povo renovado, que
confia em Deus e se orienta para a comunhão dos santos: porque Deus é vida e não
morte, é salvação e não condenação. O não
radical de Deus contra todas as formas do mal se concretiza e é proclamada a garantia
da vitória final.
†Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM
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