Reflexão do Evangelho – Domingo, 19 de novembro
Mt 25,14-30 - Parábola dos talentos
Lá em cima, viam-se as muralhas da
cidade santa e as cabanas montadas, por toda parte, para comemorar a travessia
do povo hebreu pelo deserto. Era a festa das Tendas, a cidade regurgitava de
peregrinos, a música era constante e o som das trombetas se mesclava ao vozerio
que se erguia da multidão, aglomerada ao redor das tendas, armadas ao longo das
estreitas ruas, principalmente, no largo pátio do Templo. Multiplicavam-se os
comentários sobre o Mestre, uns o consideravam herético, outros o defendiam com
ardor. A expectativa era grande, levando os discípulos a pensar que,
finalmente, o Reino de Deus iria se manifestar. Mas eis que Jesus, para arrefecer
o entusiasmo deles, conta-lhes a parábola dos talentos.
Um homem, de nobre origem, viaja
para longe e confia parte de seus bens a dez de seus servos, distribuindo-lhes alguns
talentos, com o objetivo de recebê-los de volta, acrescidos do lucro resultante
do esforço de cada um deles. Sua confiança neles é grande. Alguns lhe são fiéis,
multiplicam o que receberam, e obtêm a devida recompensa. Mas um deles, que
guarda o único talento recebido, embrulhado num turbante, não pelo receio de
assumir riscos, mas por negligência, não lucra nada. Designado como servidor
inútil, por não permitir que a obra divina crescesse em sua vida, ele teve de entregar,
mesmo o pouco que lhe fora confiado, aos servidores fiéis.
A quantidade diferente de talentos,
um, dois e cinco talentos, entregues aos servos, segundo S. Hilário de
Poitiers, “corresponde ao fato de a fé ser vivida diferentemente pelos homens”.
A fé, apesar de ser expressão da verdade e alvo supremo da vida humana, apresenta
um paradoxo: ao mesmo tempo, que provoca contestações e divisões, ela exprime o
esforço para se chegar à unidade e à paz. Daí a exigência de um diálogo sincero,
que exclui a possibilidade de ignorar o outro ou de viver isoladamente, pois o
diálogo conduz a algo que vai além da simples tolerância: o fortalecimento de uma
mútua compreensão, fonte de comunhão e de unidade na diversidade.
Para esse intercâmbio, o ponto de
partida é a humildade, ou seja, o reconhecimento realista de si mesmo; e o princípio-chave
é a fórmula expressa pelos primeiros Padres da Igreja: “Gratia supponit et
perficit naturam”, pois a experiência cristã da graça divina assegura que ela não
só supõe, mas aperfeiçoa a natureza, tornando-a portal de esperança para a
indizível comunhão com Deus.
†Dom
Fernando Antônio Figueiredo, OFM
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