Reflexão do Evangelho – Domingo, 14 de janeiro
Jo 1,35-42
- Vocação dos primeiros discípulos
Estamos
na primeira semana da vida pública de Jesus, aquela semana que se inicia com o
Batismo de Jesus e se encerra com a transformação da água em vinho nas núpcias
de Caná. João Batista lá estava, desde o Batismo de Jesus, às margens do rio
Jordão, com dois de seus discípulos, pois sua missão não era ir ao encontro de
Jesus para segui-lo. Mas vendo-o se aproximar, fixa nele seu olhar intenso e
penetrante, emblépsas, como que para
identificar a verdade de uma pessoa, avivando em seus discípulos a curiosidade,
até mesmo certa ansiedade em ver, ouvir... seguir. Principalmente, após as
palavras dirigidas por ele a Jesus: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado
do mundo”.
Para
surpresa de todos, Jesus passa ao largo, “vai além”, mas os dois discípulos,
André e “o outro discípulo”, desejosos de ter um encontro pessoal com Ele, seguem-no.
Na escola antiga, tal atitude significava mudar de Mestre, aderir a um novo
estilo de vida.
Notando
a presença deles, Jesus se volta, observa o caminho percorrido, e, após um
momento de silêncio, toma a iniciativa e pergunta-lhes: “Que estais procurando?
”. Talvez desconcertados, eles simplesmente respondem com uma outra pergunta: “Rabi,
onde moras? ”. Perplexos, eles o ouvem dizer: “Vinde e vede”. O coração
disparou. Ele os convidava a permanecer com Ele aquele dia, fato que leva S. Agostinho
a exclamar: “Que dia mais feliz, que noite ditosa eles passaram! Edifiquemos
também nós mesmos, em nossos corações, e façamos uma casa para acolhê-lo. Que
Ele nos ensine e fale conosco”. Para ser seu discípulo não bastava ouvi-lo, era
preciso ser testemunha de uma pessoa, Jesus de Nazaré.
A
atração divina já tinha começado a se manifestar; as atitudes e palavras de Jesus
eram transmitidas de boca em boca. Os discípulos foram para poder ver. João
Evangelista, o “outro discípulo”, não restringirá o verbo ver ao sentido
corporal de enxergar, ele o estenderá ao seu significado interior e espiritual.
Para vê-lo deve-se “estar” com Ele e conhecê-lo. Daí seu desejo de transmitir
aquela figura inconfundível, alguém mais que humano só reconhecido caso se viva
interiormente o encontro com Ele.
E
isso não é tudo. Sua acolhida, gestos, reações, despertam o desejo de ouvi-lo
sempre e sempre mais, unindo-se Ele em sua pregação. Para eles era impossível
não dividir com outros a alegria do encontro; era impossível não partilhar sua
mensagem do reino de Deus, onde todos vivem como numa só família. Imediatamente,
André foi ao seu irmão Simão e o convida para conhecê-lo. Fitando-o, Ele lhe
diz: “Tu és Simão, filho de João; chamar-te-ás Cefas”. Ele será o alicerce de
pedra sobre o qual Ele edificará o edifício de sua Igreja.
As
primeiras palavras, ditas por Jesus aos dois discípulos: “Vinde e vede”, e as
últimas, dirigidas a Pedro: “Tu, segue-me”, emolduram, no Evangelho de João, o
quadro no qual se desenvolve a missão do Mestre e o caminho a ser trilhado
pelos que querem conhecer sua pessoa, mensagem e estar em comunhão com Ele. Ir,
ver, seguir, três verbos que expressam a experiência de seus primeiros
evangelizadores, no constante esforço para anunciar a sua Palavra e testemunhar
a vida de comunhão com Ele e com os irmãos.
†Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM
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