Reflexão do Evangelho - Autoridade, sinal de unidade


Reflexão do Evangelho
Autoridade, sinal de unidade

                               
        A verdadeira liberdade, dom gratuito de Deus, conduz a vontade humana, segundo Santo Agostinho, a crescer no bem. A pessoa é essencialmente dinâmica; ela não é só um ser, mas um poder-ser, que foge de toda definição racional, de toda descrição. Capaz de autodeterminação e de transcendência, ela quer se revelar, graças ao exercício da autoridade, como pessoa livre e responsável, em sua plenitude.
        Isto mostra que fora da pessoa humana não há verdadeira autoridade. Mas, como compreendê-la?    
Nesse sentido, interessa-nos o Evangelho, que relata os frequentes e eloquentes encontros de Jesus com o povo. Sua objetividade espontânea e simplicidade levam os ouvintes a exclamar: “Ele fala com autoridade”. As palavras brotavam não de uma elaboração fora da vida, mas da palavra humana vivida e experimentada. 
É este, justamente, o sentido, em grego, do termo autoridade: exsousía, “a partir do que se é”. As palavras de Jesus não são palavras anônimas, para alimentar unicamente a mente, mas envolvem os ouvintes, pessoalmente. É diálogo vital. Elas refletem quem é aquele que se comunica; é apelo que desperta, suscita e transforma. Coerência perfeita, modelo para todos os que O seguem e a Ele querem se assemelhar, mesmo correndo o risco de serem submetidos à morte.
Os mártires são um grande exemplo dessa fidelidade e coerência.
        Na língua latina, a palavra autoridade provém do verbo augere, que significa fazer crescer, promover ou, ainda, fazer aparecer o crescimento do outro, particularmente, da comunidade, em todos os seus membros. Consciente da realidade finita, limitada, mas também da essência infinita de cada um, este crescimento jamais cessará, mesmo na eternidade.   
        Por isso, parece-nos contraditório e destrutivo definir a autoridade pela afirmação do senhorio ou pela determinação de uma posição preestabelecida.  Se assim fosse, no seu exercício, ela teria como base o poder de dominação, cujo resultado assusta: não haveria unidade, mas sim igualdade; não mútua cooperação, mas sim submissão. Ela perderia sua razão de ser, e o ser humano se estiolaria, tornando-se uma voz vazia, esganiçada e sem eco.
Daí ser imprescindível respeitar, no exercício da verdadeira autoridade, o poder do serviço. Ela se apresentará viva, ricamente, positiva; distribuirá papéis e funções, no festim da liberdade de cada pessoa, em sua própria identidade; e a diversidade, respeitada e incentivada, enriquecerá a todos na integração de horizontes sempre novos, num crescimento sem limites.
A esse propósito, lembramos as palavras de São Gregório de Nissa: “O homem, criado criança e imperfeito, atinge sempre mais o seu estado de perfeição e de maturidade, pois seu itinerário é evoluir em direção à perfeição de Deus”.
        E a passagem do Gênesis, que atesta ter sido o homem criado à imagem e semelhança de Deus, estará sendo interpretada, de uma maneira mais plena: “Não como ponto de partida, mas, principalmente, como o ponto de chegada do progredir do homem, num abrir-se sempre mais ao humano, na transparência do ato Criador do Deus de Bondade”.



+Dom Fernando Antônio Figueiredo, ofm

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