Reflexão do Evangelho – Domingo, 18 de junho


Mt 9,36-10,8 - A missão dos Doze e as recomendações de como exercê-la.




          Pouco antes de enviar os Apóstolos em missão para proclamar o Evangelho do Reino, Jesus, vendo a multidão “cansada e abatida como ovelhas sem pastor”, lhes diz: “Levantai o olhar e vede os campos de trigo, como já estão dourados e prontos para a colheita... A messe é grande e os operários são muitos poucos”. Como peregrinos errantes, eles iriam percorrer o país, ensinando a caminhar segundo os ensinamentos do Mestre, e a viver a prática de um amor incondicional a Deus e a ilimitada misericórdia para com seus semelhantes, que não exclui ninguém, nem mesmo os inimigos. De ouvintes atentos, tornam-se “pescadores de homens”, conscientes de que ir além dos poderes confiados pelo Mestre ou deturpá-los seria abuso de confiança, ou traição. Assim, revestidos de autoridade, eles partem como seus embaixadores: “Quem vos ouve, a mim ouve”.
 Para exercer essa missão, que compreende curar os enfermos e expulsar os demônios, o Mestre lhes dá instruções pormenorizadas. Recomenda-lhes “que não levem nada para o caminho: nem pão, nem alforje, nem dinheiro no cinto, apenas um cajado”. Ele os quer livres e disponíveis, sem se deixarem perturbar excessivamente com as contingências exteriores, pois a quem Deus ajuda não há mal que o possa atingir. S. Agostinho lê nessas palavras, o desejo de que eles “caminhem não na duplicidade, mas sim na simplicidade”, não sendo, no dizer de S. Clemente de Roma, “jamais duplos de espírito (mè dipsychômen) ”. Com uma alma reta, não dividida, os Apóstolos iriam de cidade em cidade, sem alimentar ilusões, pois muitos os receberiam com alegria, outros seriam seus adversários. Se alguém os acolhesse em sua casa, ali deveriam permanecer, recebendo teto e pão, porque “o operário tem direito a seu sustento”.
Não se tratava de professar a fé, mas de perseverar nela e, qual “pobre de Deus” (anawim), testemunhar, na simplicidade, a bondade e a misericórdia daquele que os envia e lhes “ordena dar gratuitamente o que gratuitamente tinham recebido”. Tendo um coração que sente o outro, que “traz na própria carne, diz o Papa Francisco, as alegrias e angústias do Povo”, eles iriam transmitir o prazer e a ternura de viver, que nascem de relações corretas consigo mesmo, com as outras pessoas e com a realidade que os cerca. O Senhor não é apresentado com uma majestade distante e gloriosa, mas como “Príncipe da Paz”, presença de um mundo novo, onde todos solidários constroem juntos o bem comum. Sim. Mais do que uma simples saudação, a paz significa salvação, verdade e justiça, fruto do amor e da reconciliação com Deus e dos homens entre si.
A paz é tão real, que se alguém não a quer receber, ela retornará à sua origem. O mesmo sucederá em relação às cidades visitadas por eles: se seus habitantes não se dignam receber o Evangelho, ao partirem, eles deverão sacudir “o pó de debaixo dos pés em testemunho contra eles”. Gesto que não significa desprezo, mas um forte apelo à conversão, convite para viver sem medo de viver e de morrer. O Senhor não deseja construir muros ou barreiras de separação, mas quer que, pelo Evangelho, todos os homens se reconheçam e se esforcem para orientar-se na busca da paz concreta e possível, revigorados pelo abraço amoroso do Pai, que une a todos.


+Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM

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