Reflexão do Evangelho – Domingo, 17 de junho

Reflexão do Evangelho – Domingo, 17 de junho
Mc 4, 26-34 - Parábola da semente e do grão de mostarda


     É na companhia de seus semelhantes que a pessoa humana encontra as condições necessárias para o seu desenvolvimento. Por sua participação na natureza comum de todos, ela transborda a realidade individual e busca as condições necessárias de sua realização. Abertura, que a coloca, livre e criticamente, diante da vida sobrenatural, não determinada por uma verdade revelada ou absoluta. Daí resulta a igualdade essencial e a mesma dignidade para todas as pessoas.
Portanto, é factível afirmar que a visão cristã da criação não lhe é estranha, e que cada uma se realiza, em sua diversidade, na comunhão com todas as demais pessoas, diríamos, numa vida de Igreja, que é mais íntima e forte do que uma simples coletividade.
Essa dignidade de pessoa humana, criada à imagem e semelhança de Deus, fundamento da justiça e da paz, é elevada, por Jesus, o Filho de Deus, à condição da filiação divina. Comunhão com Deus, descrita, quer sob a forma de uma analogia psicológica, em que o ser humano busca descobrir em Deus o que ele encontra em sua alma; quer numa visão teológica, segundo S. Gregório de Nissa (4° séc.), a partir do que a Revelação diz sobre Deus, para reencontrar no ser humano o que nele corresponde à imagem divina.
     Nesse sentido, as parábolas do Reino, contadas pelo Mestre e relatadas no Evangelho do dia de hoje, embora insistam sobre a responsabilidade do ser humano, ressaltam, justamente, que a iniciativa é sempre de Deus. É Ele quem convoca o homem a se superar constantemente, a se libertar do egoísmo, que o fecha em sua individualidade e o separa dos outros indivíduos, para alcançar a fonte de unidade: a Trindade Santa, em seu constante diálogo com a criação.
    Então, renovado, resgatado, o ser humano reconhece quão importante é acolher esse recôndito apelo interior, que o liberta e o impele a um livre relacionamento com os demais seres humanos e com a natureza, nossa irmã. Porém, esse apelo divino cai em terrenos diversos, como expressa S. Gregório Magno, ao comentar a parábola: “A que caiu em terreno bom, o nosso coração, permite-nos conceber bons desejos e o seu crescimento é constante: no início, quando começamos a fazer o bem, somos ainda erva, mas quando progredimos na prática do bem, crescemos e chegamos a ser espigas. Finalmente, já sólidos na prática do bem, alcançamos a perfeição e, como espigas, seremos grãos maduros” (Hom. sobre Ez. 4,28s).
       Através de imagens simples e sugestivas, o Mestre assinala o valor inestimável da dignidade de cada pessoa, livre e consciente. “Presente em nós” e não só “em meio a nós”, agindo eficazmente, o Reino de Deus torna-se presença da ação salvadora, que nos atrai e nos permite sustentar o primado da pessoa e as exigências de sua dignidade. É o emergir, diria S. Máximo, “da pessoa humana, em sua identidade e unidade, mediante a graça divina” (Amb. PG 91,1308 B).




+ Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM

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