Reflexão do Evangelho – Domingo, 24 de junho


Reflexão do Evangelho – Domingo, 24 de junho
Lc 1, 57-66.80 - Natividade de S. João Batista

       Para o mundo bíblico, o nome dado a alguém exprime a missão que ele desempenha no mundo; costume que se estende para designar os lugares aos quais está ligado algum acontecimento importante. Porém, por ocasião de uma de suas aparições misteriosas, Moisés é repreendido ao perguntar a Deus: “Qual é o seu nome?”. Dirá o Apóstolo S. Paulo: “Seu nome está acima de todo nome que se pode nomear não só neste século, mas também no vindouro” (Ef 1,21).
      Mas quando se celebram as glórias de Deus por causa da criação, Ele recebe os nomes de tudo quanto foi criado, como Bom, Belo, Sabedoria, Amável, Senhor dos Senhores, que designam não propriamente o seu nome, mas a sua presença em tudo quanto existe, principalmente, no meio do seu Povo.
Hoje, o Evangelho discorre sobre o nascimento do último dos profetas do Antigo Testamento, João Batista, que recebe por missão preparar a vinda de Jesus, o Salvador. 
      O estilo de vida e a mensagem, que ele irá proclamar, estão intimamente ligados, pois, na linha da tradição do Êxodo, ele irá viver no deserto, lugar escatológico de conversão para Deus e, consequentemente, de um novo início. Desde o seu nascimento, traça-se um paralelismo entre Jesus e João, que haveria de viver, exclusivamente, na expectativa da vinda do Messias.
      A circuncisão, cerimônia de entrada na comunidade de Israel, segundo a prática judaica, era festejada com festas e com a presença de parentes e vizinhos. Por isso, lá estava um número respeitável de pessoas participando daquele momento festivo; acotovelavam-se, trocavam ideias e comentavam entre si o fato extraordinário de Isabel, mulher já idosa, ter concebido um filho. Acontecimento comovedor; ocasião de grande regozijo. Mas qual nome seria dado à criança?
      Ao dizer que o menino receberia o nome de João, Isabel, sua mãe, causa grande espanto; a surpresa é geral! João era um nome estranho à herança de seus ancestrais, à história e ao status da família, podendo mesmo sugerir a ideia de o menino ser fruto de um acaso. Alguns chegam a propor o nome do próprio pai, que, aliás, permanecia mudo, acompanhando tudo o que se passava.
Levantando-se, em meio aos ânimos acalorados, ele pede uma tabuinha e escreve: “Seu nome é João”, que significa “Deus é misericordioso” ou “Deus é favorável”. Se até aquele momento eles estavam surpresos, mais pasmos ficaram ao ouvirem Zacarias, antes mudo, entoar um belíssimo cântico profético, louvando a Deus.
      Fato impressionante, fascinante! Nosso verdadeiro nome é aquele que Deus nos dá, em seu amor único e pessoal. A circuncisão, ou o batismo, celebra a indelével pertença a Deus e ao seu Povo, fato que permite reconhecer João Batista, desde seu nascimento, não como um entre outros, nem como fruto de uma herança vital pertencente a outro, mas como um eleito de Deus, integrado em sua identidade e unidade indivisível.
    Eis o paradoxo: uma herança recebida e uma liberdade dada por Deus; nostalgia de continuidade vital e começo de uma vida nova, presentes nas palavras do Evangelista: “Um temor apoderou-se de todos os seus vizinhos, e por toda a região montanhosa da Judeia comentavam-se esses fatos”.



+Dom Fernando Antônio Figueiredo, ofm

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