Reflexão do Evangelho – Domingo, 14 de maio


Jo 14,1- 12 - Não se perturbe o vosso coração


     

      O sol brilhava na manhã de quinta-feira, quando Jesus pediu aos Apóstolos que preparassem a ceia pascal, a última que Ele celebraria com eles. Assim, no crepúsculo daquele mesmo dia, Ele entra na cidade de Jerusalém; dirige-se à sala preparada para a ceia e convida os apóstolos a se unirem a Ele na celebração da “nova Páscoa”, ação simbólica e profética, que recordaria, não apenas, a libertação de um povo, mas também a dádiva da entrega de sua vida por toda a humanidade. Os dois acontecimentos, a “Ceia do Senhor” e a “Morte de Cruz”, exprimem o mesmo ato de serviço de amor prestado por Jesus, considerado sob dois pontos de vista diferentes. Nesse sentido, S. Efrém escreve: “Na ceia, Cristo mesmo se imolou. Na cruz, Ele foi imolado” (Hinos sobre a crucifixão 3,1).   
Após a Ceia, Jesus conforta e tranquiliza os Apóstolos, que se sentiam perturbados pela questão de quem seria o traidor. Mas até mesmo suas palavras: “Não se perturbe o vosso coração”, soavam como um adeus de despedida. Não havia no olhar de Jesus nada de recriminação, apenas o desejo de despertar a confiança, que estava adormecida em seus corações, e consolidar neles a fé e a esperança. Daí o fato de Ele afirmar sem rebuços: “Crede em Deus... e também crede em mim”.   
É como se Jesus lhes estivesse perguntando: “Vocês creem mesmo em mim? ”. Eles bem sabem que só em Deus se pode e se deve crer de modo absoluto. Porém, diante do relacionamento dele com o Pai, sempre espontâneo e natural, eles não estranham essa equivalência, aliás, reiterada por Ele, ao dizer: “Eu vou preparar-vos um lugar, e quando eu me for e vos tiver preparado um lugar, eu virei novamente e vos levarei comigo”. Lembrando-se do imenso oceano de compreensão e de amor, que Ele lhes dedicava, eles já se sentiam situados na “tenda do encontro”, lugar em que Moisés ou o Sumo Sacerdote, uma vez por ano, penetrava para colocar-se na presença de Deus, modelo da realidade celeste e divina.
Certamente, isso lhes bastava, nada lhes iria faltar: o Mestre não deixaria de se lembrar deles, nem mesmo, na casa do Pai, onde há muitas moradas. Ao ouvirem essas palavras, um fio de lágrima escorre pela face dos discípulos, na certeza de que o Senhor se comprometia com eles para sempre e os acompanharia pelos caminhos futuros, não importando quais dificuldades eles pudessem encontrar. Porém, em sua franqueza proverbial, Tomé lhe pergunta: “Mas como, se não conhecemos o caminho? ”. Se, naquele momento, há indecisão, mais tarde, graças ao Espírito Santo, eles compreenderão que o próprio Jesus é o caminho e a verdade para se chegar à vida de comunhão com o Pai e, consequentemente, com os irmãos.


+Dom Fernando Antônio Figueiredo, ofm

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