Reflexão do Evangelho – Domingo, 21 de maio


Jo 14-15-21 - Espírito da Verdade


     

      Por volta da hora do crepúsculo, dirigindo-se em direção ao monte das Oliveiras, Jesus ergue os olhos para o céu e pede ao Pai: “Glorifica o teu Filho para que o teu Filho te glorifique”.  Em tom suave e com um afeto profundo pelos que o cercavam, Ele os conduz a uma filial confiança em Deus, nomeando-o: “Pai”, “Pai santo”, “Pai Justo”. No tempo de Jesus, embora essa palavra, comum da vida familiar, não fosse empregada ao se dirigir a Deus, Ele a usa normalmente, o que revela sua maneira simples, espontânea e não convencional de orar. Assim, para espanto dos discípulos, com voz serena e imperturbável, Ele diz: “Pai, chegou a hora! Glorifica teu Filho, para que Ele te glorifique”. A sua despedida corresponde ao momento solene de sua entronização na glória celeste, e à manifestação do seu amor por todos os seus seguidores, aos quais Ele transmite, na oração “sacerdotal”, o seu testamento.
         Ao longe, a lua cheia tingia os horizontes, e sua tênue luz refletia os braços abertos do Mestre, que num de seus mais sublimes momentos, expressa seu inefável amor por todos, ao dizer: “Que eles sejam um como tu, Pai, estás em mim e eu em ti”. A vida cristã não se compõe apenas de doutrinas e celebrações, mas ela é o lugar onde se experimenta o amor a Deus e o amor fraterno. Ela se fortalece e se irradia graças ao amor, sobretudo, quando ele é vivido no perdão e na misericórdia, que nos dão alento e vigor para enfrentar com confiança o futuro, “como filhos de Deus à imagem de Jesus, o Filho de Deus” (S. Atanásio, da encarnação e contra os arianos, 8).
 Uma nova luz brilha nos corações dos discípulos, pois uma vida virada de costas para Deus perde seu sabor e sentido, e eles começam a entender que a unidade de Jesus com o Pai, íntima e total, tocava na essência de sua missão, revelando-a como serviço de amor pelo ser humano, presença da própria benevolência do Pai para com a humanidade. Ele é a “shekiná”, a morada salvadora de Deus junto ao povo, fato que os remete à sua Transfiguração no monte Tabor, sinal da glorificação final de toda a humanidade, independentemente do pecado e da corrupção. Por isso, diante das palavras: “Pai, eu rogo pelos que me deste, porque são teus e tudo o que é meu é teu e tudo o que é teu é meu”, eles se sentem consolados e fortalecidos, incluídos na própria filiação do Filho Unigênito e introduzidos por Ele no coração misericordioso do Pai.
Jesus ora, e sua comunhão com o Pai se irradia e une todos os homens: inaugura-se um novo tempo, e o Reino de Deus começa a fermentar em nós e no seio da história humana. O Evangelho será a força positiva desse crescimento constante em Deus, cujas consequências, segundo a atuação dos cristãos, resultam na restauração da unidade e da paz, queridas por Deus.


+Dom Fernando Antônio Figueiredo, ofm

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