Reflexão do Evangelho - Quarta-feira 03 de Dezembro

Reflexão do Evangelho
Mt 15, 29-37 - Multiplicação dos pães (segunda)
Quarta-feira 03 de Dezembro
      
       Os últimos raios de sol iluminavam o topo da montanha. Cercado pela multidão, Jesus curava os enfermos que eram trazidos até Ele. O lugar era deserto, a região árida despertava nos ouvintes a sensação de que Ele fosse um novo Moisés, que os conduzia à Terra Prometida. Absortos, eles sentiam aquele momento como a realização das palavras dos profetas, que prediziam a vinda do Messias como aquele que haveria de reunir as ovelhas dispersas e desgarradas, feridas e débeis. Naquele instante, os discípulos notam a noite que pouco a pouco os envolvia. Preocupados, vão ao Mestre para alertá-lo, pois muitos dos que lá estavam tinham vindo de longe. Como alimentá-los? O lugar era isolado. Talvez, despedindo-os, eles pudessem ainda ir às aldeias vizinhas para comprar algo para comer.
Jesus olha ao seu redor, vê a multidão que o cerca e, voltando-se para os discípulos, lhes diz: “Tenho compaixão da multidão, porque já faz três dias que está comigo e não tem o que comer”. Não é um simples pesar, é sentimento de compaixão, afeto interior, fruto de suas entranhas (splagxvízomai). Ele compartilha as necessidades de todos e, para espanto dos discípulos, acrescenta: “Não quero despedi-los em jejum, de medo que possam desfalecer pelo caminho”. Um dos discípulos arrisca a afirmar que para alimentá-los seria necessário ter muito mais do que eles tinham na caixa comum. Como se não o ouvisse, o Mestre, tranquilo, pergunta aos Apóstolos: “Quantos pães tendes?” André então fala de um jovem, que tinha consigo sete pães e alguns peixinhos. Tomando-os, e depois de dar graças, partiu-os e os deu aos discípulos, para que os distribuíssem à multidão.
         Mais tarde, esse gesto de Jesus é visto como uma antecipação da Eucaristia, ágape do amor generoso e gratuito de Deus, “sacramento do irmão”, pois ninguém pode receber na Eucaristia o perdão e a paz de Deus, no dizer de S. João Crisóstomo, sem se tornar um homem de perdão e de paz. Núcleo espiritual da Igreja, a Eucaristia é o “alimento superabundante”, descrito por S. Ambrósio como “a grande ceia messiânica, oferecida às comunidades provenientes de perto, os judeus, ou de longe, os pagãos. Para participar dela, mais importante do que lavar as mãos é purificar o coração a fim de ‘compreender’ que, em Jesus, Deus se fez presente no íntimo do homem e o alimenta com sua própria vida”.
A mesa do Reino é acessível a todos, também aos pagãos, contanto que eles acolham, no poder daquele que fez todas as coisas, a Palavra transformadora e renovadora de Deus. Celebrado em cada Eucaristia, o ágape divino é a presença de Cristo, que nos diz: “Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem come deste pão viverá eternamente. E o pão que eu darei é o meu corpo, para a vida do mundo” (Jo 6,51s).  


 Dom Fernando Antônio Figueiredo, o.f.m.

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