Reflexão do Evangelho - Terça-feira 31 de Março e Quarta-feira 01 de Abril

Reflexão do Evangelho
Jo 13, 21-33.36-38 e Mt 26, 14-25 - Anúncio da traição de Judas
Terça-feira 31 de Março e Quarta-feira 01 de Abril

       A declaração de Jesus: “Um de vós me entregará”, inscreve-se no coração mesmo da última ceia. Justamente pela sua imprecisão, suas palavras trazem inquietação e perplexidade. Os Apóstolos se entreolham e se perguntam: Quem será? Sem obter uma resposta direta, todos notam o olhar triste do Mestre ao pronunciar o salmo: “Aquele que come comigo ergueu o calcanhar contra mim”. Confusos, temerosos, inseguros, eles se perguntam um depois do outro: “Não sou eu, sou?” Escreve Orígenes: “Jesus fala, de modo geral, para provar a qualidade de seus corações, para mostrar que os Apóstolos acreditavam mais nas palavras do Mestre, que em sua própria consciência”. Também Judas, após hesitar um instante, ousa perguntar: “Porventura sou eu?”
Angustiado pela incerteza, Pedro recorre ao discípulo, que estava ao lado do Mestre, para saber quem era o traidor. Recostado sobre o peito de Jesus, isto é, “tendo conhecimento íntimo do Mestre”, segundo Orígenes, João recebe como resposta: “É aquele a quem eu der o pão, que vou umedecer no molho”. Ao sugerir que é alguém que come do mesmo pão, Jesus torna dramático o contraste entre a comunhão à mesa dos irmãos e a traição. Mas querendo talvez, mais uma vez, salvar a ovelha desgarrada, Jesus tomou um bocado de pão e o deu a Judas, que, ao invés de se deixar iluminar pela misericórdia divina, tornou-se ainda mais sombrio; “satanás entrou nele”, segundo o evangelista.
No entanto, predominam a paciência e a bondade do Mestre. Ele não amaldiçoa, nem condena. Suas palavras são um último apelo à conversão. Mesmo ao dizer o terrível “ai”, sem deixar de indicar que a responsabilidade cabe a Judas, o Senhor não o abandona. É uma exclamação de dor, mais do que uma fórmula de maldição. Por isso, fitando-o nos olhos, Jesus lhe diz: “Faze depressa o que tens a fazer”. O doloroso enigma do mal praticado, resultado da opção de Judas que lhe permite resvalar em erro, ressalta a tensão existente entre a liberdade responsável e os desígnios divinos.
Então neste contexto, a observação do Evangelho de que “era noite” adquire um valor simbólico dramático, pois, no dizer de S. Agostinho, “a noite acudia em auxílio da noite”. Em outras palavras, afastando-se da luz, Judas embrenhou-se nas trevas da noite, e quem anda à noite tropeça, pois não sabe aonde ir. S. Cirilo de Alexandria dirá: “O infeliz respira a pleno pulmão esta ‘noite’ que é o poder dos maus desígnios”.

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