Reflexão do Evangelho do dia 05 de Janeiro de 2013
Sábado – 05 de janeiro
Jo 1, 43-51 – Encontro com Natanael
Natanael é considerado por Jesus como
um verdadeiro israelita, um homem “sem duplicidade”. Nele “não há artifícios”.
Ele não é uma pessoa entregue ao fingimento e à mentira. A declaração de Jesus expressa a pureza do
coração e o dom sem reserva de Natanael. Faz-nos recordar o mandamento do
Senhor: “amar a Deus, sem reserva, de todo o coração”. O contrário seria ter um
“coração duplo” ou não ser alguém inteiramente de Deus. Pois alimentar a duplicidade
em seu agir implicaria estar em desobediência a Deus.
A saudação a Natanael: “Eis um verdadeiro
israelita, em quem não há fingimento” reflete o conhecimento profético de
Jesus. Surpreso, Natanael pergunta: “De onde me conheces?” Buscando tranquilizá-lo,
Jesus lhe diz: “Antes que Felipe te chamasse, quando estavas sob a figueira, eu
te vi”. Diante de tais palavras, Natanael prostra-se, exclamando: “Rabi, tu és
o Filho de Deus, és o Rei de Israel”. Jesus poderia estar recordando a árvore
do paraíso, aludindo ao pecado de Adão e de Eva ou dos idosos julgados por
Daniel. Segundo os Livros históricos, poderia indicar o repouso “sob a vinha ou
a figueira”, imagem da paz. Interpretação esta feita pelos profetas. Por outro
lado, caso designasse uma árvore seca ou a perda de seus frutos, simbolizaria o
castigo. Segundo a tradição rabínica, interpretação mais comum na época, o fato
de estar sob a árvore atesta a participação no conhecimento do bem e do mal. Em
outras palavras, descreve a aplicação ou a consagração ao estudo das
Escrituras, fonte do conhecimento sagrado.
O chamado de Natanael é um exemplo da
pedagogia de Jesus. Expressa o crescimento na fé de quem busca Deus. De início,
Natanael possui um conhecimento imperfeito e interesseiro a respeito do Messias,
rei de Israel. No encontro com Jesus, há um crescimento interior. Ao
reconhecê-lo como o Messias, ele professa a fé no Filho do Homem, cujo
sacrifício abrirá as portas do céu para toda a humanidade. S. João Crisóstomo
declara que Natanael interroga como homem e Jesus responde como Deus: “Eu te vi
sob a figueira”. Jesus já o conhecia, não como um homem que observa, mas como
Deus que tudo conhece. Jesus diz unicamente o necessário. Natanael, recebendo o
sinal indubitável e profético de Jesus, confessa o Cristo: “Tu és o Filho de
Deus, tu és aquele que esperamos”. Expectativa que exprime a capacidade de
superação, que torna possível Natanael “decolar” e lhe confere participar da
grandeza presente em Israel, povo no qual Deus faz sua morada.
A narração do encontro encerra-se com
as palavras de Jesus: “Vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e
descendo sobre o Filho do Homem”. Os horizontes alargam-se e Jesus mostra a
todos, como declara S. João Crisóstomo, “que não há nada mais importante do que
as realidades do céu. Nada deve distanciar a nossa atenção da expectativa do
reino dos céus”. Nesse mesmo sentido, S. Cirilo de Alexandria interpreta a
referência aos anjos de Deus. Diz ele: “Com esta alusão aos anjos de Deus, o
Senhor nos convoca a passar das realidades passageiras às eternas, das terrenas
às celestes, das carnais às espirituais”. Nenhum condicionamento terreno seria
capaz de satisfazer-nos, nem definir-nos. Somos chamados, como Natanael, a nos
ultrapassarmos infinitamente.
Dom Fernando Antônio Figueiredo
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