Reflexão do dia de Finados - Saudade sim, tristeza não! - Domingo 02 de novembro de 2014
Reflexão do dia de Finados
- Saudade sim, tristeza não!
Domingo 02 de
novembro de 2014
Entre os primeiros
cristãos, havia o costume de rezar pelos mortos e de celebrar, como atestam os
sacramentários romanos, a missa de corpo presente por ocasião do falecimento de
um deles. Quando isso não era possível, devido às perseguições, celebrava-se
mais tarde, dando origem às missas de sétimo e trigésimo dia.
Nesse mesmo período,
iniciou-se a prática, presente ainda em nossos dias, de fazer a memória dos
mortos e dos vivos nas celebrações eucarísticas. Seus nomes eram então guardados
em registros denominados Libri Vitae (Livros da Vida), posteriormente
designados necrologias e obituários, passando das menções generalizadas às
individuais. Com o passar do tempo, consolidou-se uma preocupação: a lembrança
de todos os demais falecidos que, por algum motivo, não constavam nas listas. Para
preencher esta lacuna, decidiu-se estabelecer um dia do ano para se rezar na
intenção litúrgica de todos os que passaram desta vida. Por volta dos anos 1.024
e 1.033, foi escolhido, como dia consagrado à oração pública e universal por
todos os falecidos, o dia 2 de novembro, o tão conhecido Dia de Finados, por
ser o dia litúrgico que se segue à festa de Todos os Santos.
Desde o início, o conteúdo
principal da celebração não era a morte, mas sim a fé na Ressurreição e,
consequentemente, a esperança de se estar um dia perante Deus em sua morada. A
celebração do dia de Finados antecipa a vida feliz e eterna em Deus.
Agradece-se a Deus a existência dos antepassados e acende-se uma vela,
proferindo uma oração, para recordar a luz da fé que nos iluminou, através de
nossos pais, avós, parentes e amigos. Luz que não se extinguiu com a passagem
deles para a eternidade de Deus, mas que se perpetua em nossos corações. As
flores depositadas em suas sepulturas prenunciam o alegre reencontro na
ressurreição dos mortos.
No Dia de Finados, rezamos não aos mortos, mas pelos mortos,
pois todos, os vivos e falecidos, participam da comunhão dos Santos, que jamais
se desfaz, pois todos eles se encontram no regaço amoroso do amor inefável e
misericordioso de Deus. Nesse sentido, escreve S. Ambrósio: “Pois, para não ser
de novo a morte o fim da natureza humana, foi-lhe dada a ressurreição dos
mortos. Assim, refulge em nossos corpos a morte de Cristo, aquela ditosa pela
qual se destrói o ser exterior, a fim de ser renovado nosso homem interior e se
desfaça nossa habitação terrena, abrindo-se para nós a habitação celeste”.
Na realidade, a palavra morte, do
latim mors, mortis, traz em geral, uma sensação de tristeza e de medo. O
próprio Jesus, no horto das Oliveiras, sentiu angústia e chegou a suar sangue. No
entanto, Ele acolhe a morte e todo o sofrimento que ela comporta, oferecendo-a
ao Pai em nosso favor. A oferta de sua vida ao Pai realiza nossa salvação e consolida
a esperança da humanidade, de modo a enxugar as lágrimas do nosso coração e
transformar a tristeza, sentida na hora da morte de
um ente querido, em saudade. Então reconhecemos que os laços inquebrantáveis do
amor eterno e fiel de Deus nos enlaçam e antecipam nosso reencontro no Reino
dos Céus. Dos lábios de S. Gregório de Nazianzo, brota sua suplica ao Senhor: “Desde
já, recebe-nos ó Pai, unidos a todos os que partem para aquela feliz e
intérmina vida que está em Cristo Jesus”. Saudade sim, tristeza não!
Dom
Fernando Antônio Figueiredo, o.f.m.
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