Reflexão do Evangelho de Lc 11, 37-41 - Contra os fariseus e escribas (I) - Terça-feira 14 de Outubro
Reflexão do
Evangelho de Lc 11, 37-41 - Contra os fariseus e escribas (I)
Terça-feira 14 de Outubro
A
responsabilidade de uma ação compreende o fato ocorrido, o conhecimento das
circunstâncias e as suas consequências, que podem ser ou não nefastas e
prejudiciais. Jesus alerta os fariseus. Pois
se eles são responsáveis por uma palavra casual, sem graves consequências,
tanto mais por todas as palavras injuriosas e prejudiciais, como as blasfêmias
proferidas contra a sua pessoa. Jesus não os está condenando. Simplesmente, exorta-os
a assumir responsavelmente suas palavras e atos, no nível subjetivo de suas
intenções, pois para nada vale a prática externa se eles não assumem
interiormente a autoria de seus atos e palavras. Ao ato externo une-se a
intenção, que reflete a verdade e a fidelidade à vontade do Pai.
Mas os fariseus
permanecem exclusivamente no aspecto externo, ansiosos e preocupados somente
com a aparência e o reconhecimento dos outros. Voltando-se para eles, Jesus exclama:
“Ai de vós fariseus, purificais o exterior do corpo e do prato, e por dentro
estais cheios de rapina e de perversidade!” Palavras que expressam dor ou
indignação perante a superficialidade ou a hipocrisia dos fariseus. Não é uma
condenação. No máximo, é uma ameaça profética. Ameaça, dirigida não só aos
fariseus, mas também aos discípulos, que são convidados a estar de prontidão
para não caírem num “farisaísmo” análogo ou numa sabedoria orgulhosa,
alimentada por um idealismo arrogante.
Antes,
o profeta Isaías já tinha proferido cinco “ais”, num forte apelo para que não
se tomasse o mal como sendo um bem, causa de perigosa perversão da consciência.
Nesse sentido, a metáfora empregada por Jesus é bastante clara. S. Cirilo de
Alexandria lembra que “Jesus fala de lavar a parte interna e externa de um
cálice ou de um prato para mostrar que os fariseus podem parecer limpos
exteriormente, embora, na realidade, estejam cheios de ganância e de maldade em
seus corações”. S. Ambrósio escreve: “Para que o corpo esteja limpo, é
necessário que o conteúdo do cálice esteja puro, graças à esmola, à
misericórdia e à Palavra de Deus”.
A
insistência de Jesus visa “condenar, afirma S. Hilário de Poitiers, a
preferência dada às observâncias humanas em detrimento das orientações dos
profetas: respeitam-se opiniões vazias e transgride-se o que devia ser
respeitado. Por exemplo, os ornamentos do altar e do Templo lá estavam tão somente
para imitar a beleza das realidades futuras. Por essa razão, Cristo reprova que
o ouro e a oferenda sejam honrados mais que o Templo e o altar, mais que o
mistério”. Para Jesus, as purificações rituais e as práticas exteriores não
conduzem, automaticamente, ao cerne da verdadeira piedade, à entrega generosa e
confiante a Deus. Ora, não se abrindo à luz divina, que ilumina o interior do
homem, os fariseus não entram no Reino de Deus e impedem a entrada daqueles que
os ouvem. A atitude farisaica, imersa na realização externa e orientada pelo
poder, obscurece o mais importante: o amor a Deus e ao próximo.
Dom Fernando Antônio Figueiredo,
o.f.m.
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