Reflexão do Evangelho de Lc 11, 1-4 - A oração do Pai-Nosso - Quarta-feira 08 de Outubro

Reflexão do Evangelho de Lc 11, 1-4 - A oração do Pai-Nosso
Quarta-feira 08 de Outubro
      
       Três vezes ao dia, os judeus eram convidados a orar, e os rabinos tinham uma oração para cada ocasião. Jesus, homem de oração constante, alerta os discípulos contra o formalismo que podia conferir um cunho impessoal e mecânico às preces. A propósito disso, Cromácio de Aquileia escreve que, “segundo as palavras do Mestre, nossa oração não é medida pela prolixidade de palavras, mas pela fé do coração e pelas obras de justiça”. São Cirilo de Alexandria recorda que “a loquacidade era chamada de ‘battologia’, palavra proveniente do nome de um grego chamado Batto, autor de longos hinos, prolixos e cheios de repetições, em honra dos ídolos. Ao contrário, diz ele, Jesus ordena orar com brevidade, sóbria e sucintamente, pois Deus conhece nossas necessidades antes mesmo que as exponhamos”.
O próprio Jesus oferece múltiplos exemplos e belos ensinamentos a respeito de uma vida dedicada à oração, característica essencial dos que desejam entrar no Reino dos Céus. Certa feita, ao terminar a oração, a pedido dos Apóstolos, Ele comunica-lhes com palavras muito simples sua prece filial, a oração do Pai-Nosso. Preciosa herança, que a Igreja conserva e solenemente eleva ao Pai, por ocasião do Batismo e, segundo a “tradição” atestada pelo Apóstolo São Paulo, na celebração eucarística.
 O Pai-Nosso está muito presente na vida da Igreja. A Didaqué, ou Doutrina dos Doze Apóstolos (de 60 a 80 d.C.), antes de transcrever o Pai-Nosso, determina: “Assim orareis três vezes ao dia”. A recomendação de “entregar” esta oração aos catecúmenos, ou seja, àqueles que se preparam para ser batizados, é feita com belíssimos comentários por muitos Padres, entre os quais Tertuliano, São Cirilo de Jerusalém, Santo Agostinho e São Pedro Crisólogo. Ao comentar o Pai-Nosso, São Cipriano, por exemplo, faz importantes recomendações, entre elas a de lembrarmos que, ao se dizer “santificado seja o vosso nome”, não estamos santificando o Senhor com nossas orações, “mas pedimos a Ele que o seu nome seja santificado em nós”.
Ao dizermos a oração do Pai-Nosso, expressamos o desejo de ter uma vida voltada para Deus, no cumprimento de sua santíssima vontade. Desse modo, após confessarmos que o seu nome é santificado em nós, nosso coração se abre aos nossos semelhantes, pois não dizemos “meu” Pai, mas “nosso” Pai, e suplicamos “nosso” pão de cada dia. E imploramos o perdão de “nossas” dívidas, assim como perdoamos aos “nossos” devedores. Em suma, ao rezar o Pai-Nosso, o discípulo de Jesus vivencia a presença de Deus que o ama e, mergulhado em sua inefável misericórdia, abandona todo o egoísmo e se abre à comunhão com os irmãos, no perdão e no amor. Ele não procura o próprio proveito; o filho confia em seu Pai.
       A comunhão com Deus é então fortalecida e, no cumprimento de sua santíssima vontade, colocamo-nos no serviço generoso e despretensioso aos nossos semelhantes. Com S. Agostinho, Bispo de Hipona, suplicamos: “Senhor, ensina-nos a nos amarmos e a nos perdoarmos mutuamente. Concede-nos a força espiritual esperada para fazer o bem e para alcançar o fruto das boas obras”.


Dom Fernando Antônio Figueiredo, o.f.m.

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