Reflexão do Evangelho - Segunda-feira 15 de Junho
Reflexão do Evangelho
Mt 5, 38-42 - Olho
por olho e dente por dente
Segunda-feira 15 de Junho
Ao
interpretar a Torá, dá-se, com Jesus, a mudança da esfera cultual para a esfera
moral-espiritual. Se a Lei proibia o assassinato, Jesus quer banir do coração
humano o ódio, raiz do delito. Se os códigos do Antigo Testamento falam do
princípio de compensação, referendada pela lei romana do “talión”: Vida por
vida, olho por olho, Jesus apregoa amar os próprios inimigos. Aliás, a prática da
Lei do Talião foi perdendo sua força, e no tempo de Jesus, provavelmente, já
havia tomado a forma de compensação pecuniária. Evidenciava-se, antes, a
proximidade privilegiada de Deus junto ao seu povo, do qual Ele se aproximou
mais do que qualquer outro povo.
Esta adoção, revelada
pelo Filho Jesus, impulsionava os ouvintes a assemelharem-se sempre mais ao
Pai, lutando contra o sentimento de vingança e vencendo o mal com o bem. Com
surpresa, os doutores da Lei o ouviam proclamar: “Sede perfeitos como vosso Pai
celeste é perfeito”. Mas este era justamente o objetivo principal da Lei: não apenas
frear o ímpeto da vingança pessoal, mas levar o faltoso à santidade de vida.
Nesse sentido, S. Agostinho lembrava que, ao perder o seu ímpeto, a violência
é acolhida “nas redes da paciente caridade” e inspira o discípulo a vencer o
mal com o bem e, até mesmo, desejar o bem daqueles que o ofendem. Tarefa ousada
que exige força interior e espiritual, fruto da comunicação do amor de Deus aos
que Ele adota, identificando-os ao Mestre e, particularmente, ao Pai, que faz
nascer o sol sobre os maus e os bons, e chover sobre os justos e os
injustos.
Os
que o escutam, escribas e fariseus, não o entendem, pois, colocados diante de
uma ofensa, alimentam a ideia de reagir e revidar. Jesus insiste, chama-os ao
vértice espiritual dos Dez Mandamentos do Sinai: querer o bem dos que os
ofendem. O ato jurídico estrito subordina-se à caridade generosa, compreendida
como obediência da fé, contrária à obediência servil. Em outras palavras, Jesus
fala da obediência filial, expressa no amor fraterno: “Àquele que quer pleitear
contigo, para tomar-te a túnica, deixa-lhe também a veste; e se alguém te
obriga a andar uma milha, caminha com ele duas”. Assim, sem deixar de ser
judeu, Ele supera a Lei mosaica, e introduz os discípulos na Lei evangélica, “pois
se amais só aqueles que vos amam, que mérito tereis com isso? Não agem da mesma
forma os pecadores?”
Desta passagem
bíblica, não se deduz diretamente a defesa de uma atitude de “não violência”; o
objetivo do Senhor é simplesmente mostrar o ideal a ser buscado pelos seus
seguidores: de eles se reconhecerem “filhos do Pai que está nos céus, que faz
nascer o Sol sobre os maus e os bons, e chover sobre os justos e os injustos”. Sem
cair numa visão casuística, mas evitando-a, Ele os exorta a almejar a perfeição
espiritual, graças à qual eles se tornam partícipes desde já da feliz
eternidade do Pai.
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