Reflexão do Evangelho - Terça-feira 23 de Junho

Reflexão do Evangelho
Mt 7, 6.12-14 - Não deis aos cães o que é santo
Terça-feira 23 de Junho

       No relacionamento com o próximo, também com o que é precioso e sagrado, faz-se necessário o dom do discernimento, arte de distinguir e reter o que deve ou não ser feito ou dito. Nesse sentido, o Senhor urgia a prática da “regra de ouro”, que devia inspirar os Apóstolos e levá-los a fazer ao outro o que esperavam que ele lhes fizesse. Semelhante dito sapiencial de autoproteção já se encontrava, em forma negativa, em Tobias (4,15). Jesus o insere no contexto dos mandamentos de Deus e o transforma em ato de amor, do qual dependem “toda a lei e os profetas”.
A seguir, Jesus alerta os discípulos sobre o perigo de atentar contra o que é consagrado a Deus, dando aos cães o que é santo ou atirando pérolas aos porcos. Pois, como escreve S. Hilário de Poitiers, “o apelo evangélico visa a não expor os mistérios divinos a quem não os merece ou não está preparado para acolhê-los”. Os Apóstolos não podem titubear. Eles hão de se empenhar em cumprir a vontade do Pai, porque não se pode seguir na vida de modo indeciso, como se a salvação estivesse em suspenso. Dois são os caminhos possíveis: o primeiro, largo e cômodo, conduz à perdição, o outro, estreito e exigente, dá acesso à salvação. Este último requer, no dizer de S. Jerônimo, “desprendimento e esforço, renúncia e sacrifício”. “E poucos são os que o encontram”.

       O Mestre não nos desencoraja. Ao contrário, anima-nos com a certeza de que veio não para condenar, mas sim para salvar. Essa ideia, que é o âmago de sua mensagem, leva S. Bento a exortar os monges a não desistir, “abandonando o caminho da salvação, no qual só se pode entrar por uma porta estreita. Pois na medida em que se avança na vida monástica ou cristã e na fé, o coração se dilata, para percorrer, na indizível doçura do amor, o caminho dos ensinamentos divinos”. Proposição paradoxal. Se o caminho e a porta são estreitos, porém ao entrar e ao se comprometer, nosso coração se dilata no encontro com Cristo, que como bom Pastor nos toma em seus braços e nos sustenta. Cabe-nos a responsabilidade da escolha, tendo sempre presente, como observa S. Agostinho, “que o caminho estreito só pode ser trilhado pelos corações humildes e pacíficos”. 

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