Reflexão do Evangelho do dia 28 de Fevereiro de 2013
Quinta-feira – 28 de fevereiro
Lc 16, 19-31: Parábola do mau rico e do
pobre Lázaro
A parábola não fala de um rico
anônimo, voluntariamente cruel ou desdenhoso. Ele simplesmente ignora o pobre, embora
este permaneça à sua porta. Exclama s. Jerônimo: “Ó mais infeliz entre os
homens, vês um membro do teu corpo prostrado diante da porta e não tens
compaixão. Em meio às tuas riquezas, o que fazes do que te é supérfluo?” Em
muitos corações brama a mesma indignação ao verem tantos famintos, desprezados e
rejeitados. Quantos vivem ao lado da miséria, sem vê-la, indiferentes e alheios
ao sofrimento dos indigentes. O abismo entre Lázaro, no céu, e o rico, no
inferno, foi criado durante sua vida terrena. Ouve-se a dura repreensão:
“Imitai a imparcialidade de Deus, e não existirão mais pobres” (S. Gregório de
Nazianzo).
O nome Lázaro, dado por Jesus ao pobre, significa
“Deus é meu auxílio”. Apesar de uma vida adversa e sofredora, ele não perde sua
esperança em Deus. Seus olhos contemplam os tesouros do céu. O mau rico nada vê
além das riquezas terrenas, permanece preso aos bens materiais e aos prazeres
humanos. Preocupado em buscar a felicidade terrena, nem nota o que se passa ao
seu redor. Observa s. Agostinho: “Jesus não se referiu ao nome do rico, mas
disse o nome do pobre. O nome do rico andava de boca em boca, mas Deus não o
nomeia; silenciavam o nome do pobre, mas Deus o revela. Assim, Deus, que habita
no céu, silencia o nome do rico porque não o encontra inscrito no céu. Porém,
declara o nome do pobre porque aí o encontra inscrito, por sua própria
solicitação”.
Pródiga em imagens, a parábola
retrata a retribuição pessoal concedida a Lázaro e traça os sofrimentos do rico,
logo após a morte. Não se espera o fim dos tempos ou o julgamento último. A morte
já os introduz na eternidade, marcada por um destino irrevogável. Estaria Jesus
sendo muito severo? Ora, já no Antigo Testamento, ao se falar da esmola,
sugerem-se consequências para a eternidade. Se ela “cobre uma multidão de
pecados”, é necessário que ela não se resuma só à dádiva material. Unindo-se à
caridade, ela comporte também um cuidado pessoal com o infeliz, pobre ou
desamparado. Pois, diz S. Gregório de Nissa, “os pobres são os administradores
de nossa esperança”.
Na parábola, Jesus fala com veemência e
ardor: afastem-se as trevas do egoísmo e da ganância, do indiferentismo face à
miséria do próximo, e abra-se o coração à generosidade e ao amor dadivoso e
desinteressado. Clama s. Hilário de
Poitiers: “Deus não é medo, castigo, remorso, mas boa nova, amor, Ele é Pai”. S.
Agostinho, recordando a passagem do Evangelho: “com a medida com que medis
sereis medidos”, insiste: “ao rico, no tormento, é negada a misericórdia, porque
não quis usar de misericórdia em sua vida. Por isso, quando em meio aos sofrimentos,
ele invoca a piedade, não é ouvido, porque sobre a terra não acolheu as
súplicas do pobre”. Seu coração permanece
fechado à misericórdia.
Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM
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