Reflexão do Evangelho do dia 04 de Junho de 2013

Terça – feira – 04 de junho
Mc 12, 13-17: Dar a César o que é de César

Acalorada é a discussão sobre o imposto a ser pago ao Império romano. Todos se sentiam envolvidos e tinham sua opinião a respeito da questão. O que diria Jesus? A curiosidade é grande, sobretudo, a das autoridades judaicas sempre desejosas de indispô-lo contra o povo. Aproximam-se dele e, não isentos de hipocrisia, perguntam-lhe: “É lícito pagar imposto a César, ou não?” Havia um ressentimento popular diante do odiado imposto e, da parte dos mais zelosos da Lei, em sua visão teocrática de Israel, seu pagamento constituía verdadeiro problema de consciência. No entanto, caso dissesse não, Jesus poderia fornecer aos seus adversários elementos para uma acusação política diante de Pilatos. É o que irão alegar em seu julgamento. Mediante palavras lisonjeiras, destacando que “ele é verdadeiro”, aproximam-se de Jesus, cientes de que seus ensinamentos refletem liberdade e que “ele não considera os homens pelas aparências”. Tentavam induzi-lo a se colocar contra o tributo devido aos romanos.
          Pagar tributos era ratificar a submissão a César e reconhecer seu domínio sobre Israel. Jesus percebe a má fé de seus adversários e revida com uma “lição” irrecusável. Primeiramente, como de costume, ele amplia o debate e expõe “um princípio geral”, válido no domínio político-religioso: “dar a César o que é de César”, para só então se colocar acima do político e recordar os direitos de Deus. Evita a pretensa dominação religiosa, e sem resvalar em ingerência indevida no religioso, o cesarismo, ele afirma as obrigações para com Deus a serem mantidas e respeitadas: “Dar a Deus o que é de Deus”. S. João Crisóstomo dirá que “o preceito de dar a César o que é de César estende-se ao que não se opõe ao serviço devido a Deus. Caso contrário, não seria mais um tributo pago a César, mas a Satã!”. Por conseguinte, a obrigação civil, significada na moeda romana cunhada com a figura do Imperador, é limitada pelo dever primário de conformar a conduta humana à lei de Deus.
Os Padres da Igreja leem as palavras de Jesus em um sentido místico-espiritual. Ao mostrar a imagem de César, Jesus traz à mente de seus ouvintes a marca (sfragis) deixada por Deus ao criar o homem à sua imagem e semelhança. Tertuliano observa que se deva “dar a César a imagem de César que se encontra na moeda, e a Deus a imagem de Deus que está no homem. Assim, darás a César a moeda e tu ti darás a Deus”. Cristo não trouxe aos homens, escreve Florovski, “uma carta de liberdade política e de independência”, mas uma “carta de salvação”, “o evangelho da vida eterna”, “a liberdade do pecado e da morte, o perdão dos pecados e a vida eterna”, com profunda repercussão na ordem cultural, social e política.
Sem dúvida, os adversários compreendem a sua resposta. Ao dizer: “dar a Deus o que é de Deus”, o Senhor leva-os a ter consciência de eles serem imagem de Deus. Pasmos, eles se calam. Suas palavras, além de hábeis, são também verídicas. O povo que o cerca exclama admirado: Eis um ensinamento novo, transcendente, que exige ser “meditado em seu coração”. Escreve S. Gregório de Nazianzo: “O velho Adão foi ultrapassado, o novo o suplantou. Em Cristo nasce uma nova criação: renovemo-nos!”.


Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM

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