Reflexão do Evangelho do dia 10 de Abril de 2013
Quarta-feira – 10 de abril
Jo, 3, 16-21: Jesus vida e luz (encontro com Nicodemos)
Jesus acolhe todos os que dele se
aproximam. Nicodemos, membro do Sinédrio, é um deles, que o procura no silêncio
da noite, às escondidas. As primeiras palavras do Senhor ressoam aos ouvidos do
seu coração como um apelo à conversão e à abertura da mente ao transcendente: “Em
verdade te digo: quem não nascer do alto não pode ver o Reino de Deus”. Inquieto
e confuso, Nicodemos, para esconder seu espanto, interroga-o: Nascer de novo,
“como pode isto acontecer?” Uma doce ironia envolve a resposta de Jesus: “És mestre em Israel e
ignoras essas coisas?” A seguir, remete-o ao tema do Filho do Homem, que,
descendo de junto de Deus, subirá ao céu: “Como Moisés levantou a serpente no
deserto, assim é necessário que seja levantado o Filho do Homem”. Alusão ao seu
enaltecimento na cruz, sinal não de escândalo, mas de glória e exaltação. S. Cirilo de Alexandria exclama: “Só os que,
com fé, elevarem seus olhos para ele, viverão e terão a verdadeira vida”. Ao
ouvi-lo, comovido, Nicodemos sente suas dúvidas se dissiparem. Também ele poderia
nascer do alto e participar da verdadeira vida, a “vida eterna”.
As palavras do Mestre inspiram o Evangelista,
que diz: “Deus amou tanto o mundo que doou (édwken) o seu Filho único”. Em
geral, traduz-se por “entregou” e não, como fizemos, por “doou”, empobrecendo o
texto e eclipsando o sentido teológico e espiritual de doação generosa e
gratuita do Pai e do próprio Filho Jesus. Jesus é dom do Pai, presença de seu
amor e de sua graça. É assim que Nicodemos o ouve. E, envolvido pelo seu amor
misericordioso, ele se rende ao Mestre. Ó inaudita vitória da graça divina!
Nicodemos renasce e reconhece, na pessoa de Jesus, o Messias em sua fidelidade
inconteste ao Pai.
O convite feito a Nicodemos estende-se
a todos. Muitos o acolhem. Destes, afastam-se as trevas da ignorância e do
pecado, e em seus corações brilha a luz do Pai. Ninguém que vive em união
estreita com Jesus permanece fora da luz. Seu olhar se estende a todos, não só aos
pecadores, mas também aos necessitados e rejeitados, levados em seus braços
amorosos, como a ovelha desgarrada, à festa do encontro com o Pai. Polêmica, caso
haja, provém de seus adversários. Para os demais, sua vinda é a primavera de
Deus, representada pela figura do Esposo. Cada qual ouve, em seu coração, as
palavras dirigidas ao paralítico: “Levanta-te... teus pecados te são perdoados”.
Ou, aos Apóstolos: “Vêm comigo...”. Jesus acolhe os pequeninos e
marginalizados, leva o perdão aos pecadores e o consolo aos aflitos e
angustiados.
Jesus bate à porta do coração de Nicodemos, pois “Deus não
enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja
salvo por ele”. Também nós, se “bebermos a água da vida e endossarmos as vestes
da luz inarrável, nosso homem interior será confirmado na experiência e na
plenitude da acolhida ilimitada de Jesus e desde já viveremos, em verdade, a
vida eterna” (Pseudo-Macário). Tornamo-nos infinito espaço de Deus, na certeza
de que “aquele que disse vir habitar conosco, também nos prometeu
engrandecer-nos, ao dizer: ‘e convosco caminharei’” (S. Agostinho).
Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM
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