Reflexão do Evangelho – Sábado, 29 de abril


Jo 6,16-21 - Jesus caminha sobre as águas



     
Após despedir o povo e enviar os discípulos para a outra margem do lago, “Jesus subiu ao monte, a fim de orar”. Silêncio e solidão. Entre as nuvens, tocadas pelo vento forte, Ele avista o barco dos discípulos, que buscavam em vão chegar a Cafarnaum.  “Na quarta vigília da noite”, nos primeiros albores do dia, Ele vai ao encontro deles. Soprava ainda um vento intenso e impetuoso, quando os Apóstolos avistam, em meio às águas encapeladas, um vulto que caminhava sobre as águas.
Assustados, eles viam aquele vulto avizinhar-se, sentiram medo e chegaram a exclamar: “É um fantasma! ”. Porém, em meio ao fragor das ondas, que ameaçavam virar o pequeno barco, uma voz serena os tranquiliza: “Não temais, sou eu! ”. Custava-lhes crer que fosse o Mestre, que faz menção de passar adiante, como o fez com os discípulos em Emaús, para despertá-los à fé e à confiança em Deus, como nas manifestações de Moisés e de Elias. A esse propósito, comenta S. João Crisóstomo: “Jesus não acorre logo para salvar os discípulos, mas os instrui, através do temor, a afrontar os perigos e aflições”. Se confiarmos, o olhar compassivo de Jesus sempre estará aguardando-nos junto ao Pai, para nos comunicar a paz e introduzir-nos na felicidade indestrutível do seu Amor incomparável.
As palavras do Senhor: “Não temais” recordam a promessa feita por Deus a Isaías: “Não temais, pois eu estou convosco”, isto é, “crede unicamente”. Para os Apóstolos, as palavras do Mestre são um apelo para que eles estejam abertos interiormente à presença divina, sempre surpreendente. Nesse sentido, ao dizer: “Sou eu”, Jesus desperta nos Apóstolos a lembrança das manifestações inauditas de Deus, conduzindo o povo de Israel no deserto. Do mesmo modo que o Pai, Jesus exige dos discípulos confiança e entrega, tornando eterno pelo amor o bem que realizam e os gestos de ajuda, que pontilham sua missão. 
Mais tarde, em meio às dificuldades e perseguições, se eles vacilarem ou vierem a afundar, não desistirão, pois terão sempre a certeza de que Jesus está ao lado deles, em tudo o que fizerem: a mão misericordiosa do Mestre os protege e os reconduzirá ao barco, onde alcançarão serenidade (apátheia) e repouso (hesychia). Nesse sentido, de modo sugestivo, o relato termina: “Assim que eles subiram ao barco, o vento amainou”. Linguagem de manifestação de Deus, de Teofania, convite a superar o “medo sagrado” e reconhecer, no domínio de Jesus sobre as águas tumultuosas, o início dos tempos messiânicos.


+Dom Fernando Antônio Figueiredo, ofm

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