Reflexão do Evangelho - Sexta-feira, 14 de abril
Jo
18,1 - 19,42 - Paixão de Jesus
Estava Jesus em oração, quando se ouvem,
descendo de Jerusalém e subindo o monte das Oliveiras, os passos dos que irão
prendê-lo. Prostrado em terra, “Ele ora com mais insistência ainda e o suor se
lhe tornou semelhante a espessas gotas de sangue que caiam por terra”. Indo aos
discípulos, Pedro, Tiago e João, que “estavam à distância de um arremesso de
pedra”, como que à procura de companhia e conforto, Ele os vê dormindo e lhes
diz: “Dormi agora e repousai”. Na realidade, tomados pelo cansaço, Pedro e os
demais Apóstolos se deixam vencer pelo torpor do sono. Jesus se sente só e
deverá sozinho enfrentar a sua hora. Ao retornar à oração, de seus lábios brotam
murmúrios de uma alma aflita: “Abba, Pai, se possível afaste de mim este
cálice”. Num fio de voz, ao contrário de Adão, Ele exclama: “Entretanto, não se
faça o que eu quero, mas sim o que tu queres... Não a minha vontade, mas a tua”.
É a entrega total do Filho ao amor do Pai, força que lhe permitirá afrontar e
vencer a morte.
Finalmente,
Ele se volta para os discípulos e os acorda, dizendo: “Levantai-vos! Vamos! Eis
que meu traidor está chegando”. Imediatamente, ilumina-se o alto da colina e um
apressurado grupo de soldados, com tochas acesas, aproxima-se; à frente,
conduzindo-os, Judas, que, após beijá-lo, o saúda: “Salve Mestre”. Num insistente apelo, com olhos de bondade, sussurra-lhe
Jesus: “Amigo, para que estás aqui? Com um beijo entregas o Filho do homem”. Jesus
é feito prisioneiro. Apesar das promessas de fidelidade, os Apóstolos tomados
pelo pânico, dispersam-se. Somente Pedro e João o seguem, de longe. Preso, arrastado
e vilipendiado, os soldados o levam consigo e o deixam na prisão: é a Paixão do
Senhor, mais tarde, a sua Crucifixão.
No
dia seguinte, ao meio-dia, em meio a um grupo de pessoas, que avança em direção
ao Gólgota, Jesus caminha a passos lentos, carregando nos ombros o braço
horizontal da cruz, conforme costume da época. No alto da colina, o som terrível
dos martelos, fincando os cravos em seus pulsos e pés, soa no coração dos
Apóstolos, particularmente, de sua Mãe, Maria, que acompanha, juntamente com
algumas mulheres, a crucifixão. Os olhos de Jesus não se turvam, porém, doces e
serenos se voltam para os algozes; sua voz, entrecortada de dores, percute no
silêncio dos corações indiferentes: “Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que
fazem”. O ar carregado dos zombadores é superado pela misericórdia do
Crucificado, que diz ao bom ladrão: “Ainda hoje estarás comigo no paraíso”. Alguns
transeuntes, vendo-o crucificado, injuriam-no e caçoam dele, com
questionamentos e objeções: “Como um crucificado pode ser nosso rei? ” Ou, como
pode ser ele o Filho de Deus? ”. Sereno, suas palavras refletem bondade e
ternura: “Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem! ”; a dor da Mãe se
une à sua dor, suas lágrimas ao seu sangue, numa prova de grande amor; vendo
sua Mãe e ao lado dela, seu discípulo amado, representante de todo verdadeiro
discípulo, diz a ele: “Eis tua Mãe”, e para ela: “Eis teu filho”, nele, Maria
olhou para todos nós, num afago materno, que cheio de ternura e carinho nos
consola e nos anima no seguimento do Filho Jesus
Por
volta das três horas da tarde, após sentir em seus lábios uma esponja embebida
de vinagre, com voz forte, Ele brada: “Tudo está consumado”. “Com plena
confiança, escreve Orígenes, Ele entregou seu espírito nas mãos do Pai”. A
terra treme, fendas aparecem nos rochedos e o centurião, que ouvira suas
últimas palavras: “Pai, em vossas mãos entrego o meu espírito”, confessa: “Na
verdade, Ele era o Filho de Deus”. Numa experiência verdadeiramente humana, de
dor e de abandono, Jesus se volta para o Pai e, na gratuidade plena, gesto
verdadeiramente divino, entrega-se com absoluta confiança a Ele. É Páscoa, “passagem
de Jesus deste mundo ao Pai”; a salvação, a paz e a felicidade descem até nós,
banham nossa vida e nos transforma em arautos da Boa-Nova. Com S. Agostinho
dizemos: “Amemo-nos também nós uns aos outros, como Cristo nos amou e se entregou
por nós”.
+Dom Fernando Antônio Figueiredo, ofm
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