Reflexão do Evangelho – Terça-feira, 11 abril e quarta-feira, 12 de abril
Jo
13, 21-33.36-38 e Mt 26, 14-25 - Anúncio da traição de Judas
A declaração de Jesus: “Um de vós me
entregará”, inscreve-se no coração mesmo da última ceia. Justamente pela sua imprecisão,
suas palavras trazem inquietação e perplexidade a todos, pois cada um deles é
marcado tanto pela graça divina, como também, simultaneamente, pelo pecado. Daí
o fato de os Apóstolos se entreolharem e se perguntarem: “Quem será? ”. Sem
obterem uma resposta direta, confusos e temerosos, eles notam o olhar triste do
Mestre ao pronunciar o salmo: “Aquele que come comigo ergueu o calcanhar contra
mim”, e se perguntam, um depois do outro: “Mestre, não sou eu, sou? ”. Como
transparece, comenta Orígenes, “Jesus fala, de modo geral, para provar a
qualidade de seus corações, deixando claro que os Apóstolos acreditavam mais em
suas palavras, que em sua própria consciência”. O Evangelista S. Mateus lembra
que também Judas, que o chama de Mestre e não de Senhor, como os demais,
perguntou: “Porventura sou eu? ”.
Angustiado
pela incerteza, Pedro recorre ao discípulo, que estava ao lado de Jesus, para saber
quem era o traidor. Recostado sobre seu peito, sinal de um conhecimento íntimo
do Senhor, João recebe como resposta: “É aquele a quem eu der o pão, que vou
umedecer no molho”. O contraste entre a comunhão da Ceia pascal, símbolo de
fraternidade entre os judeus, e essas palavras de traição adquire um sentido trágico.
Mesmo assim, querendo salvar a ovelha desgarrada, Jesus tomou um bocado de pão
e o deu a Judas, um discípulo escolhido por Ele, que não compreende seus
objetivos e não se deixa tocar pela sua misericórdia.
No
entanto, Jesus não amaldiçoa, nem condena; predominam sua paciência e bondade.
Nesse sentido, o terrível “ai”, embora indicando que a responsabilidade cabe a
Judas, seria uma exclamação de dor e não uma fórmula de maldição. É o doloroso
enigma do mal praticado, consequência da tensão existente entre a liberdade
responsável e os desígnios divinos.
Então
nesse contexto, a observação do Evangelho de que “era noite” adquire um valor
simbólico dramático, pois, no dizer de S. Agostinho, “a noite acudia em auxílio
da noite”. Em outras palavras, afastando-se da luz, Judas embrenhou-se nas
trevas da noite, e quem anda à noite tropeça, pois não sabe aonde ir. S. Cirilo
de Alexandria dirá: “O infeliz respira a pleno pulmão esta ‘noite’, que é o
poder dos maus desígnios”.
Por
outro lado, Pedro, ao ouvir Jesus dizer que, por sua causa, eles ficariam
escandalizados e tropeçariam, promete que não o abandonará, mesmo se todos os
outros o façam. Porém, para fugir da cruz, ele o nega por três vezes, dizendo
não ser seu discípulo, nem conhecê-lo. Logo após o julgamento, passando por
ele, o olhar de Jesus, segundo o Evangelho de S. Lucas, fará que o apóstolo, ao
se lembrar das palavras ditas na última Ceia, arrependido, repare sua negação
pela tríplice profissão de fé. Judas reconhece a inocência do Mestre; e vendo
que sua morte é inevitável, arrependido, “foi-se enforcar-se”.
+Dom Fernando Antônio Figueiredo, ofm
DEUS lhe abençoe e lhe ilumine. Obrigado p/ reflexão D. Fernando.
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