Reflexão do Evangelho de Quarta-feira – 11 de Dezembro
Reflexão do Evangelho de Quarta-feira – 11 de Dezembro
Mt 11, 28-30 – Correção fraterna
Nesta passagem, Jesus fala aos seus
discípulos sobre a liberdade espiritual necessária para restaurar a boa
convivência e a amizade entre as pessoas. E mostra que não se trata
simplesmente de um procedimento social ou de uma reconciliação da boca para
fora, mas de uma atitude mística, nascida da comunhão com Deus. Aquele que
trouxer o amor (ágape) divino, em seu coração, jamais abrirá espaço para algo
que possa prejudicar a vida de seu semelhante. Ao contrário, será abençoado por
uma harmoniosa relação entre o espírito e a graça, que o conduzirá à união com
Deus, fonte de íntimo e verdadeiro respeito para com todos. A paz e a união
devem prevalecer sempre. A vigilância dos homens em relação a isso há de ser
constante e não menos incessante o desejo da correção fraterna: reorientar para
Deus aquele que errou ou praticou o mal.
O modo como Jesus apresenta a correção
fraterna aos discípulos – e podemos nos incluir entre eles – é bastante
simples. Exige apenas um pouco de sensibilidade e delicadeza. Para alcançá-la,
há três etapas possíveis. Na primeira, tentamos resolver a questão pessoalmente
e se não tivermos sucesso, podemos contar com a ajuda de mediadores, amigos ou
parentes, que servirão de agentes e testemunhas da reconciliação. Se ainda
assim fracassarmos, podemos recorrer aos representantes da Igreja. Neste caso,
entra a função sacramental do sacerdote. São Cesário de Arles recomenda:
“Não demos unicamente
o pão aos que têm fome, mas apressemo-nos em conceder nossa indulgência aos que
pecaram contra nós. Quanto ao modo de aplicar aos nossos inimigos este remédio
da verdadeira caridade, mesmo quando eles não nos pedem, encontramos no
Evangelho: ‘Se teu irmão pecou contra ti, repreende-o pessoalmente’. Se
negligencias este mandamento do Senhor, tu és pior que teu adversário: pois ele
te fez mal, e te fazendo mal, ele se feriu gravemente. Negligencias a ferida de
teu irmão? Tu vês que ele morre ou que ele vai morrer, e tu não te importas? Tu
és pior te calando do que ele te ofendendo. Repreende-o a sós: sê cheio de
fervor para corrigi-lo, mas poupa o teu respeito humano! Pois a vergonha
poderia levá-lo a defender o seu pecado; e, aquele que queres tornar melhor, tu
o tornarias pior”.
De fato, temos a obrigação de
repreender imediatamente nosso irmão para que, ao nos fazer o mal, ele não
permaneça no pecado. Escreve São Jerônimo: “Não só temos o poder de perdoá-lo,
mas somos obrigados a fazê-lo, pois nos foi ordenado perdoar os que nos
ofenderam”. Aquele que pensa ser mais fácil esquecer a ofensa e deixar o
pecador entregue ao seu próprio destino está bastante enganado. “Jesus mostra,
ao contrário, a necessidade de buscar muitas vezes curá-lo da sua culpa”,
lembra-nos São João Crisóstomo.
O que deve nos mover é o desejo de realizar
em nosso irmão uma mudança de conduta que transforme sua vida. Caso ele não nos
escute, nem mesmo diante de duas ou três testemunhas, melhor seguir a
recomendação de Santo Agostinho: “Ainda que ele não seja considerado mais, pela
Igreja, como um dos teus irmãos, nem por isso deixes de te preocupar com a sua
salvação”.
A correção fraterna se funda no
infinito amor de Deus, compartilhado por todos nós. Não é um amor acidental,
que vem de nossa condição de simples criaturas. É algo muito maior. É um dom
divino, que nos permite penetrar na vida trinitária para assim nos tornar cada
vez mais semelhantes ao nosso Criador (divinae
consortes naturae). São Basílio Magno afirma que essa é a semente ou a
força (he agapetiké dýnamis) que nos
impele a alcançar a perfeição do amor divino. Vitória do bem sobre o mal, pois
por meio do amor se dissolve em nós o rancor, o ressentimento e o ódio. A
aquisição do amor divino acontece no exercício do amor ao próximo. Uma de suas
expressões: a correção fraterna.
Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM
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