Reflexão do Evangelho de Sexta-feira – 06 de Dezembro


Reflexão do Evangelho de Sexta-feira – 06 de Dezembro

Mt 9, 27-31: Cura de dois cegos

        

         Clamando por Jesus, gritam os cegos: “Filho de Davi, tem misericórdia de nós!” O título “filho de Davi” traduz a expectativa popular da vinda do Messias, anunciada a Davi pelo profeta Natan e reiterada por Isaías, Jeremias e outros profetas. Ao utilizá-lo no anúncio do anjo Gabriel a Maria, o evangelista S. Mateus tem a preocupação de explicá-lo, juridicamente, ligando-o à “casa de Davi”.

         “Tem misericórdia” suplicam os cegos, externando um sentimento de privação, natural ao ser humano, que experimenta o nada, o despojamento e, igualmente, o desejo de existir e de fazer existir na gratuidade do amor. Ao chamá-lo “Filho de Davi”, eles demonstram fé e confiança em Jesus, o que leva S. Hilário de Poitiers a dizer: “Os cegos viram porque creram e não creram porque tinham visto”. Pela fé, a “misericórdia” alcança seu sentido divino, como bem observa Orígenes: “Cristo e a Igreja iluminam nossas almas. Mas só seremos iluminados, se não formos cegos na alma. De fato, como aquele que é cego nos olhos do corpo não pode receber a luz do sol e da lua, embora seja iluminado, Cristo nos iluminará caso não seja impedido pela cegueira de nossa alma. Se porventura existe tal cegueira, é preciso, em primeiro lugar, seguir a Cristo e clamar, com fé e ardor, Filho de Davi, tem misericórdia de nós. Seremos, então, iluminados pelo resplendor de sua luz divina”.

Refletindo sobre as palavras ditas por Jesus, logo após tocar os olhos dos cegos: “seja feito segundo a vossa fé”, Cromácio de Aquileia chega à vertente da obra salvadora e iluminadora de Jesus. Nesse sentido, ele afirma: “O Filho de Deus veio para a salvação do gênero humano e, assim, removida a cegueira do erro e da maldade, todos reconhecem aquele que é a verdadeira luz”.  Ver a Jesus é ver o Filho de Deus, “é ver a Vida que estava junto do Pai e que nos apareceu” (1Jo 1,1-3).

         Portanto, a cura da cegueira não é livrar-se simplesmente de algo, mas é, sobretudo, assumir um mundo novo.  É ter acesso ao novo, ao outro, que, por força da cegueira, não se consegue ver nem compreender. O fato da cura física supõe a cura da cegueira espiritual, que liberta o homem do egoísmo e libera as forças e as energias interiores da alma, concedendo-lhe asas para alcançar a contemplação dos bens eternos. De fato, lá estão os dois que eram cegos! O silêncio os envolve. Seus lábios não encontram palavras para descrever o que seus olhos físicos começavam a ver. Inebriados pela beleza, que descortinam diante de seus olhos, eles balbuciam e, sentindo-se amados, entregam-se a Jesus, o “Filho de Davi” e anunciam seu nome “por toda aquela região”. 

 

Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM

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