Reflexão do Evangelho de Sábado - 28 de Dezembro
Reflexão do Evangelho
de Sábado - 28 de Dezembro
Mt 2, 13–18: Os Santos
Inocentes (Fuga para o Egito)
“Maria
tomou em seus braços o Menino Jesus” e com S. José, imediatamente, partiram
rumo ao Egito, lugar adequado e, ao mesmo tempo, tradicional como refúgio dos
oprimidos. Ao relatar que tal fato se deu à noite, o evangelista quer
justamente mostrar a pronta obediência da Sagrada Família. Observa Dionísio de
Alexandria: “Ela levava Aquele que tem em suas mãos o universo, como tinha
profetizado Isaías ao dizer: ‘Eis: o Senhor que, conduzido sobre uma nuvem
ligeira, entra no Egito’”. A nuvem, segundo Dionísio, designa a Virgem santa, “que
levou e gerou o orvalho do céu, enchendo de alegria o mundo inteiro que morria
de sede”.
A
ida de Jesus ao Egito, logo no início de sua vida, reporta o relato do seu nascimento
ao ponto de partida da História da Salvação. Pois “indo ao Egito, observa S.
Leão Magno, Cristo retornava ao antigo berço do povo hebreu. Ele é o pão da
vida que desceu do céu, o alimento espiritual, levando remédio à fome, que
sofriam os egípcios, frustrados da Verdade”. Unindo a infância de Israel à infância
de Jesus, evidencia-se o cumprimento da profecia a respeito do Messias como
aquele que daria origem ao Novo Israel.
A profecia alcança
sua realização plena. Não só pelo fato de Deus chamá-lo “meu Filho” a título
único, mas por efetivar o verdadeiro “êxodo”, marcado pela vitória sobre as
tentações no deserto e pela entrada na Terra Prometida. De fato, por sua Paixão
e Ressurreição, Jesus abre para toda a humanidade as portas da Jerusalém
celeste, verdadeira Terra Prometida. Eis o prelúdio do grande evento: o exílio
no Egito, o batismo de Jesus e os 40 dias no deserto. Escreve Rupert de Deutz: “Apagam-se
as tentações e a infidelidade de seus pais, pois os filhos de Israel, tirados
do Egito, passaram pelas águas do Mar Vermelho e, conduzidos no deserto durante
quarenta anos, foram tentados e encontrados infiéis”.
Apesar desses
momentos solenes e evocativos da História do Povo de Deus, o pecado e a maldade
continuam a agir. O texto fala da crueldade do rei Herodes, que, ao perceber
que tinha sido enganado pelos magos, “mandou matar os meninos de dois anos para
baixo”. Os primeiros Padres da Igreja consideram os meninos como portadores da
dignidade do martírio, porque “entre o Natal e a Páscoa, destaca S. Leão Magno,
há apenas uma distância temporal, mas não espiritual”. O mesmo é declarado por Cromácio de Aquileia:
“Ainda inocentes eles morrem por Cristo, tornando-se os primeiros mártires”.
A crueldade de Herodes é interpretada, por vezes, como fraqueza ou resultado
de inveja ou temor diante das palavras dos Magos a respeito do nascimento do Rei
dos judeus. Poder-se-ia, também, vê-la como um mal que o “possui” e que se
manifesta em atos desumanos. O fato é que desafogando sua raiva e crueldade,
sem qualquer lampejo de benevolência e de arrependimento, ele faz trucidar
todos os recém-nascidos da cidade. Os lamentos maternais de Raquel ressoam
agora em Belém!
Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM
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