Reflexão do Evangelho de Mt 8, 28-34 - A cura dos endemoninhados gadarenos - Quarta-feira 02 de Julho

Reflexão do Evangelho de Mt 8, 28-34 - A cura dos endemoninhados gadarenos
Quarta-feira 02 de Julho
        
         A simples presença de Jesus perturbava e irritava os endemoninhados, que reclamavam o direito de agir livremente nas regiões da Decápole.  Situada do outro lado do mar da Galileia, ela era uma das cidades habitadas por gregos, sob a jurisdição da província da Síria. Ao ver Jesus, eles puseram-se a gritar: “Que existe entre nós e ti, Filho de Deus? ” De fato, bastava uma palavra sua ou um gesto seu para libertar alguém dos poderes obscuros que o dominavam. Impressionadas, as multidões sentem um medo sagrado diante do poder sobrenatural, que irradia de sua presença e marca sua vitória contra o reino do mal, onde imperam a luta e a divisão. Ao contrário, Ele difunde a força vitalizante da harmonia, da unidade e do amor. 
Eis que um homem possuído pelo demônio aproxima-se dele. Era descrito como possuidor de grande força: “Ninguém podia dominá-lo, nem mesmo com correntes”. No entanto, reconhecendo a superioridade de Jesus, ele se prostra e, sem resistência, declara conhecer a sua identidade de Filho do Deus altíssimo. A expulsão do demônio ou dos muitos que possuíam aquele homem manifesta o caráter triunfal de sua ação libertadora e o rompimento com os deuses pagãos. Comenta S. Jerônimo: “Jesus o expulsa. É como se Ele dissesse: sai de minha casa, que fazes em minha morada? Eu desejo entrar: ‘Sai deste homem’. Sai deste homem; abandona esta morada preparada para mim. O Senhor deseja sua casa: sai deste homem”. Vendo-o livre, os gadarenos enchem-se de temor (phobos), a ponto de pedir-lhe “que se afastasse do seu território“.
Essa cena recorda a ação misericordiosa do Senhor, que veio atrás da “ovelha desgarrada” ou, no dizer de S. Irineu, “que veio até à profundidade da terra”. Por outro lado, a figura do demônio, pedindo para ser mandado “aos porcos, a fim de entrar neles”, denota a aversão dos judeus aos porcos e manifesta certos laivos de ironia: os espíritos “imundos” entrando nos imundos porcos. Após a cura, o homem permanece “sentado, vestido e em são juízo”, mas ao perceber que Jesus se retirava, faz menção de acompanhá-lo. Jesus, porém, despede-o e ordena que ele volte para sua casa, para junto dos seus, como presença silenciosa da cura e do anúncio da misericórdia de Deus.


Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM

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