Reflexão do Evangelho - Quinta-feira 08 de Janeiro
Reflexão
do Evangelho
Lc
4, 14-22 - Jesus em Nazaré
Quinta-feira
08 de Janeiro
Ao longo de sua missão, Jesus anuncia o
reino da Verdade, em contraposição ao reino da ilusão, da falsidade e da
mentira. Sua ação redentora e santificadora corresponde ao fato de Ele dar
testemunho da Verdade e o ato de fé dos que o seguem supõe, por sua vez, buscar
e viver a sua mensagem, e, por conseguinte, dar testemunho da Verdade. Daí, a
grande importância dada nos Evangelhos ao verbo escutar (akouein), visto como
caminho seguro para se chegar à fé: “Quem ouve a minha palavra e crê em quem me
enviou, tem vida eterna e não é submetido a julgamento, mas passou da morte à
vida” (Jo 5,24).
A falta de fé equivale a não escutar a
palavra de Jesus e constitui um obstáculo para obter a saúde do corpo e da
alma. É o que os discípulos irão constatar justamente quando Jesus, depois de
certo tempo distante de sua “pátria”, resolve voltar a Nazaré, onde tinha sido
criado. Num dia de sábado, Ele encontra-se na sinagoga da cidade. A curiosidade
era grande. Muitos tinham ouvido falar a respeito dos seus ensinamentos e dos
milagres que tinha realizado. No momento da leitura da Bíblia, como era costume,
eles colocam o rolo de papiro diante do visitante. Jesus lê justamente um
trecho do profeta Isaías:
“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu
para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar a remissão aos presos e
aos cegos a recuperação da vista, para restituir a liberdade aos oprimidos e
para proclamar um ano de graça do Senhor”.
Após a leitura, como percebesse que os
ouvintes não estavam interiormente atentos às palavras proclamadas, querendo
levá-los à conversão, diz-lhes: “Hoje, realizou-se essa Escritura que acabastes
de ouvir”. Cochicho, censuras, alguns murmuravam dizendo: como pode este jovem
se arvorar em rabino, sem ter-se preparado para isso! Outros encolhiam os
ombros e segredavam: “Não é o filho de Maria?” Surpreso com a dureza de seus
corações, Jesus exclama: “Em verdade vos digo que nenhum profeta é bem recebido
em sua pátria”. E para maior indignação
dos seus conterrâneos, Ele passa a se referir aos gentios que demonstram ter
mais fé em Deus do que os escolhidos de Israel. O profeta Elias, diz ele, foi enviado
a uma viúva, em Sarepta, na região da Sidônia, enquanto tantas outras viúvas viviam
em Israel e, no tempo do profeta Eliseu, “havia muitos leprosos em Israel,
todavia, nenhum deles foi curado, a não ser o sírio Naamã”. A revolta é grande,
pois eles consideravam os estrangeiros como pessoas distantes de Deus, excluídas
da Aliança divina. Enfurecidos, ergueram-se contra Jesus.
Sem
se intimidar, Ele os declara cegos à misericórdia divina, surdos ao seu plano
redentor, incapazes de compreender as palavras do profeta Isaías. Diante dessa
reação, Jesus não realiza milagres, “para não pensarmos, diz S. Ambrósio, que Ele
fosse constrangido pelo amor à pátria. Na realidade, aquele que amava todos os
homens não podia deixar de amar os seus concidadãos, mas eles mesmos,
comportando-se de modo invejoso, renunciaram o amor à pátria”. Doravante, como escreve
S. Cirilo de Alexandria, “Jesus irá se reportar aos pagãos, que o acolherão e
serão curados da sua lepra”.
Dom
Fernando Antônio Figueiredo, o.f.m.
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