Reflexão do Evangelho de Quarta-feira – 02 de Abril
Reflexão do Evangelho de Quarta-feira – 02 de Abril
Jo 5, 17-30: Discurso sobre as obras do Filho
Em seu agir livre e misericordioso, Deus
jamais dispensa a nossa liberdade. Caso contrário, não seríamos pessoas responsáveis
e, em última análise, não haveria o bem e o mal, que nos permitem modelar a nossa
identidade. Por conseguinte, para agirmos bem e de modo justo, urge deixar agir
em nós o fogo purificador do Espírito divino, que nos comunica o dom do
discernimento para distinguir o que é preciso admitir e o que necessitamos rejeitar
em nossas decisões para sermos, em Deus, libertos da escravidão do pecado. Então,
algo maravilhoso efetiva-se em nossa vida: a presença da salvação, da restauração
e do perdão prometidos a todos os que aceitam a divina mensagem de Jesus, o Filho
de Deus. Presente em nós, Ele é a prova de que o Pai continua a nutrir infinito
amor por nós.
Mas há os que, em sua autonomia, recusam
o convite do Senhor e consideram inadmissível o fato de ele falar e agir em
nome e no poder do Pai. É o que fazem as autoridades religiosas de sua época:
acusam-no de “não cumpridor do sábado” e “blasfemador”. Ao invés, o Evangelho
de S. João proclama-o Luz do mundo, vindo até nós para separar a luz das trevas,
a verdade da mentira, a vida eterna das aparências enganosas e efêmeras. Estabelece-se
o conflito vitorioso da luz contra as trevas, pois “a luz veio ao mundo, mas os
homens preferiram as trevas à luz, porque as suas ações eram más” (3,19).
Apesar da rejeição e dos ataques pessoais, Jesus não
condena, nem faz ameaças de castigo. A afirmação central do Evangelho declara
que “Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho, para que todo o que nele
crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (3,16). O julgamento não é Ele quem o
faz, mas sim os próprios ouvintes que, pela sua opção, se julgam, de sorte que
ao escolherem o lado dos que creem, vivendo como filhos de Deus, serão salvos ou,
ao contrário, ao elegerem o lado dos incrédulos, abraçando as trevas do pecado,
viverão como “filhos do maligno”. Tais asserções não contradizem a afirmação de
que o Filho não veio para julgar o mundo, mas sim para salvá-lo, pois seu mais
íntimo desejo é suscitar em nós o amor pelo Pai, graças ao qual o mundo,
renunciando às trevas, torna-se transparência e testemunha da verdade.
Nesse sentido, do coração amoroso do Senhor brota o
insistente e esperançoso apelo: “vem a hora, e é agora”. O “agora” ou o “desde
já” indica a decisão por Jesus, não há delongas, mas a livre e imediata adesão à
sua Palavra estabelece comunhão eterna com o Pai. Porque a Jesus foi dado o
poder de dar a vida eterna aos que o acolhem. A identidade de ação entre o Pai
e o Filho é realçada por S. Agostinho, que diz: “O Filho age unido ao Pai, não
no sentido de que o Pai faça obras que são depois imitadas pelo Filho, mas eles
agem conjuntamente”. Consequentemente, na medida em que nós vivemos e
realizamos as obras de Jesus desde já somos salvos e participamos da glória do
Pai e do Filho: “Agora é o tempo da salvação” (Lc 19,9). Caso não as realizemos,
distanciamo-nos de Jesus e, por conseguinte, do Pai.
Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM
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