Reflexão do Evangelho de Sexta-feira – 18 de Abril

Reflexão do Evangelho de Sexta-feira – 18 de Abril
Jo 18, 1 – 19,42 – Paixão de Jesus
        
         Jesus no monte das Oliveiras. Ele reza. Os Apóstolos dormem. Já se ouviam, descendo de Jerusalém e subindo o monte das Oliveiras, os passos dos que iriam prendê-lo. Jesus tinha previsto os sofrimentos pelos quais iria passar. Prostrado em terra, “Ele ora com mais insistência ainda e o suor se lhe tornou semelhante a espessas gotas de sangue que caiam por terra”. Indo aos discípulos, que “estavam à distância de um arremesso de pedra”, como que procurando consolo e alívio, chama por eles. Vendo-os dormindo, diz-lhes: “Dormi agora e repousai”. E em tom de reprimenda: “Não conseguis vigiar nem uma hora comigo?” Tomados pelo cansaço, Pedro e os demais se deixam vencer pelo torpor do sono. Jesus sente-se só e retorna à oração. Seus lábios se abrem e ouvem-se murmúrios de uma alma aflita: “Abba, Pai, se possível afaste de mim este cálice”. Luta interior e, ao contrário de Adão, num fio de voz, Ele exclama: “Entretanto, não se faça o que eu quero, mas sim o que tu queres... Não a minha vontade, mas a tua”. Entrega total do Filho ao amor do Pai, força que lhe permite afrontar e vencer a morte. Então, voltando-se para discípulos, Ele os acorda: “Levantai-vos! Vamos! Eis que meu traidor está chegando”.
         Os soldados o rodeiam. Judas se adianta e o saúda: “Salve Mestre, beijando-o”.  Num último apelo, sussurra-lhe Jesus: “Amigo, para que estás aqui?” “Com um beijo entregas o Filho do homem”. Seus inimigos venciam e o plano por eles arquitetado alcançava pleno êxito. Tomados pelo pânico, os Apóstolos, apesar das promessas de fidelidade, dispersam-se. Somente Pedro e João o seguem, de longe. Preso, arrastado e vilipendiado, os soldados o levam consigo e o lançam na prisão. É a paixão do Senhor e, mais tarde, a sua crucifixão.
No dia 14 nisan, ao meio-dia, um grupo de pessoas avança em direção ao Gólgota. Jesus caminha a passos lentos, carregando nos ombros, conforme costume da época, o braço horizontal da cruz. No alto da colina, algumas mulheres, dentre elas a sua mãe Maria, assistem à crucifixão. O eco terrível dos martelos, que fincavam os cravos em seus pulsos e pés, soa em seus corações. Erguido do chão, os olhos de Jesus não se turvam, mas doces e serenos se fixam em seus algozes. Já entrecortada de dores, sua voz percute no silêncio dos seus corações indiferentes: “Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem”. O ar carregado e zombador dos inimigos não supera a misericórdia do Crucificado. Até o bom ladrão dela participa: “Ainda hoje estarás comigo no paraíso”. Nuvens carregadas cobrem o céu, parecendo encobrir a vergonhosa loucura dos homens. Alguns transeuntes zombam dele, outros caçoam. Jamais perdendo a serenidade, voltando-se para seu discípulo amado, Jesus recomenda: “Eis tua Mãe”, e para sua Mãe: “Eis teu filho”. Representando todo verdadeiro discípulo de Jesus, João reconhece Maria como sua mãe, que, com carinho maternal, o abraça. Afago materno que se estende pelos séculos, consolando-nos e animando-nos no seguimento do Filho amado.
Após sentir em seus lábios uma esponja embebida de vinagre, Jesus com voz forte brada: “Tudo está consumado”. Diz Orígenes: “Com plena confiança, ele entregou seu espírito nas mãos do Pai”. A terra treme, fendas aparecem nos rochedos e o centurião, que ouvira suas últimas palavras, “Pai, em vossas mãos entrego o meu espírito”, confessa: “Na verdade, Ele era o Filho de Deus”. Jesus, nosso Salvador deu a vida por toda a humanidade. E nós, mergulhados no seu inefável mistério de amor, dizemos com S. Gregório de Nazianzo: “Uma só gota de seu sangue renova o mundo inteiro”.  No abandono total, experiência de sua natureza humana, Jesus se volta para o Pai e, na gratuidade plena, entrega-se a Ele. Salvação e reconciliação, paz e felicidade descem até nós, banhando nossa vida e nos transformando em arautos da Boa-Nova.  


Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM

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