Reflexão do Evangelho de Sexta-feira – 11 de Abril
Reflexão do Evangelho de Sexta-feira – 11
de Abril
Jo 10, 31-42: Jesus, o Filho de Deus
feito homem
Os judeus
ficam surpresos, mas conhecendo-os, surpresos ficaríamos se eles não se
surpreendessem. Para eles, a vinda do Messias tinha por objetivo apresentar
junto a Deus o povo adotado por Ele como seu filho, povo libertado do Egito e
conduzido à Terra Prometida. Sem negar a qualificação de Messias, Jesus mantém
em suas pregações, como um corretivo, a denominação de “Filho”, aplicada à sua
pessoa, para evidenciar o sentido de intimidade e mesmo de unicidade dele com o
Pai, impensável para os judeus. Por isso, após invocar o testemunho do Pai,
manifestado em suas obras, Jesus se volta para seus adversários e pergunta
ironicamente: “Por qual delas quereis apedrejar-me?” Conscientes de sua
intenção, com sutileza de espírito, eles respondem: “Não te lapidamos por causa
de uma boa obra, mas por blasfêmia, porque, sendo apenas homem, tu te fazes
Deus”. Ao chamar Deus Abba, “Pai”, não há dúvida que Jesus sustenta, em sentido
próprio e real, a ideia da paternidade de Deus, manifestada em seus anúncios e
através de suas obras: o Reino de Deus, ligado à sua pessoa, fez sua irrupção
no mundo com Ele e é revelado por Ele como presença da misericórdia e do amor
sem limites, que abraça um por um, inclusive os pecadores.
Ouvindo-o, seus adversários o acusam de
insultar a Deus, tornando-o passível dos maiores castigos. Julgam estar Ele
negando o monoteísmo, o Deus único da divina Aliança. Jesus não se retrata,
mas, de modo tranquilo, firme e claro, declara: “Eu e o Pai somos um (hen)”. O
termo grego expressa que os dois constituem uma realidade só. Para os inimigos
é o auge da afronta. Eles alçam a voz e o cumulam de acusações, pois, segundo a
Lei, “toda a comunidade devia apedrejá-lo”. A presença de um único blasfemador
bastaria para macular a comunidade inteira. Ora, ao falar do reino messiânico,
manifestado por Ele, o nome dado por Ele a Deus, Abba, meu Pai, aparece como
privilégio dele e pertencendo só a Ele. Ele não discute a expressão “filho de Deus”,
em sua conotação genérica, mas é incisivo: Ele é o Messias ou o Cristo, o
Ungido de Deus.
Para os primeiros cristãos essa revelação
de Jesus é essencial à vida cristã. Nesse sentido, exclama S. Irineu: “Como
poderia o homem ir a Deus, se Deus não viesse ao homem? Nós não poderíamos ser
partícipes da imortalidade sem uma estreita união com o Imortal. Como
atingirmos a imortalidade, se ela não se tornasse o que somos e assim fôssemos
adotados e nos tornássemos filhos de Deus?” É a vinda (kénosis) do Filho, que assume
a condição de escravo, sem deixar de ser plenamente Deus. No plano eterno de
Deus, o Filho abraçou, desde toda a eternidade, a humanidade em seu infinito
amor. Ele é “paixão de amor”, pois “por compaixão do gênero humano, escreve
Orígenes, Ele sofreu nossas dores, antes de abraçar a cruz, antes mesmo de ter
assumido a nossa carne”. E se ele “carregou as nossas dores”, o Pai suporta “a
nossa conduta”. Deus é misericórdia, mesmo se nós, por vezes, não reconhecemos,
no rosto amoroso do Filho, o rosto misericordioso do Pai.
Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM
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