Reflexão do Evangelho de Terça-feira 29 de Abril e Quarta-feira 30 de Abril - Jo 3, 7-15. 16-21: Encontro com Nicodemos (II)
Reflexão
do Evangelho de Terça-feira 29 de Abril e Quarta-feira 30 de Abril
Jo
3, 7-15. 16-21: Encontro com Nicodemos (II)
Era noite, quando Nicodemos vai à
procura de Jesus. No diálogo que se estabelece entre eles, Jesus o convoca a
nascer “de novo”, que para o evangelista S. João significa nascer “do alto”.
Trata-se de participar de algo que supera a realidade terrena, não se deixando determinar
por ela. Quem nasce da carne e nela permanece, enclausura-se, no dizer dos
monges do deserto, no egoísmo, na ganância e na cobiça. Mas quem nasce do alto obtém
a adoção de filho de Deus e participa, lembra S. João Crisóstomo, “da abundância
da graça, tão desejada pela humanidade”.
Ao
ouvir Jesus falar do Filho do Homem, que será levantado como “Moisés levantou a
serpente no deserto”, Nicodemos percebe a sugestão do Mestre: destacar-se de
seus esquemas e sistematizações e partir para o deserto. Trata-se de ele tornar-se
nômade de Deus em sua consciência e coração, pois o verdadeiro deserto é
interior. Ele compreende que a comunhão
com Deus é vida e luz, e que é preciso se lançar na liberdade humano-divina,
oferecida a ele por Jesus. Mas por que a cruz? Sente-se confuso diante do
Mestre que vem a ele na soberana liberdade de sua entrega ao Pai, selada mais
tarde pela cruz. Portanto, o encontro permite-lhe intuir que, em Jesus, o muro
de separação entre Deus e o homem, entre céu e terra, não existe. Então, liberto
da justificação pela Lei, ele ouve as palavras consoladoras de Jesus: “Deus
amou tanto o mundo que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele
crer não pereça, mas tenha a vida eterna”. Diríamos que, como S. Paulo, escamas
caem de seus olhos e ele compreende que fé é saber-se amado e é responder ao
amor com o amor, que não é fruto do esforço humano, mas graça e dom divino.
Realiza-se o que o próprio Senhor lhe disse:
O Filho do Homem, vindo a nós, permite-nos chegar ao Pai, como filhos, no
“Unigênito” de Deus. A expressão “nascer do alto”, que lhe parecia
incompreensível, adquire sentido e significa acolher a liberdade. Não uma
liberdade filosófica ou política, mas a liberdade da Lei, do pecado e da morte,
que ele jamais obteria por suas próprias forças. A liberdade é vista por ele
como êxodo da escravidão e entrada na condição de filho de Deus. Do coração de Nicodemos, brota uma visão
nova, que o vincula às manifestações de Deus, sempre diversas e surpreendentes.
A humildade, a simplicidade e a doação generosa de Jesus o convocam à abertura
originária de sua vida ao inefável mistério do amor do Pai. E no escândalo da
cruz, ele lê o “enaltecimento” de Jesus e, atraído por Ele, vê-se participante da
vida divina, integrando-se, como filho amado, no “Reino de Deus”. Seu desejo,
também o nosso, é viver “na liberdade dos filhos de Deus”.
Dom Fernando
Antônio Figueiredo, OFM
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