Reflexão do Evangelho de Quinta-feira santa – 17 de Abril

Reflexão do Evangelho de Quinta-feira santa – 17 de Abril
Jo 13, 1-15 – Última Ceia
        
         Ao cair da tarde, Jesus entrou na cidade de Jerusalém com os discípulos. Por ordem do Senhor, Pedro e João foram à casa de “alguém” e disseram-lhe: “O Mestre diz: o meu tempo está próximo. Em tua casa irei celebrar a Páscoa com os meus discípulos” (Mt 26,18). O dono da casa os recebe, com tudo preparado: no andar de cima, uma ampla sala, pronta, varrida e sobre a mesa alguns pratos com o pão ázimo, as jarras de vinho e as taças. Segundo a tradição, todos se estenderam sobre pequenos leitos baixos: João ao lado do Mestre, Pedro na frente e Judas não muito distante. Era o momento sagrado, que seria perpetuado pela Igreja nascente, cuja memória estaria presente em hinos e orações, e iria inspirar grandes mestres como Giotto e Leonardo da Vinci. Momento de alegria e de simplicidade. Solenemente, Jesus anuncia: É chegada a “hora”, e a hora é agora. E, com o coração palpitante de amor, Ele faz o seu último e mais íntimo discurso, que o evangelista introduz com as palavras: “Tendo amado os seus, que estavam no mundo, amou-os até o fim”. “Até o fim”, não só o último momento, mas “a plenitude”, prenúncio do seu brado na cruz: “Tudo está consumado”.
Após lavar simbolicamente as mãos, rito prescrito para o início da ceia, para surpresa de todos, Jesus levanta-se, cinge-se com uma toalha e põe-se a lavar os pés dos Apóstolos. Segundo costume judaico, tal gesto deveria ter acontecido antes de eles terem ido à mesa. Gesto geralmente confiado a um servo ou escravo. Mas na comunidade de Jesus não havia e nem poderia haver a função de servos, que é exercida pelo próprio Mestre. Ele é o servo de Deus e dos homens. Pasmos, eles o veem passar de um a outro discípulo, lavando seus pés. Ao chegar junto a Pedro, este protesta: “Senhor, tu, lavar-me os pés?” A resposta do Senhor é imediata: “O que faço, não compreendes agora, mas o compreenderás mais tarde”. As palavras do Mestre levam-no para além do simples rito da ceia pascal: “Se não te lavar, não terás parte comigo”, e ele antevê esse gesto como elemento do rito de purificação, necessário para fazer parte do convívio com o Mestre e para participar da vida de comunhão com o Pai. Depois de lavar os seus pés, “Jesus voltou à mesa e lhes disse: Compreendeis o que vos fiz?” Ora, se eu vos lavei os pés, “vós que me chamais de Mestre e Senhor e dizeis bem, pois eu o sou”, muito mais, entre vós, “vos deveis também lavar os pés uns aos outros”.
 Logo após, “enquanto comiam, tomou o pão e, depois de pronunciar a bênção, o partiu, e o deu a eles dizendo: Tomai, isto é o meu corpo’”. Partir o pão e distribui-lo aos Apóstolos exprime fraternidade e, para os primeiros cristãos, irá caracterizar a Eucaristia como “fração do pão”. A seguir, tomou “o cálice de ação de graças” e disse: “Este é o cálice do meu sangue”, o sangue da nova Aliança, derramado na cruz. Celebrar a Ceia é participar do amor infinito do Senhor, em sua presença real no meio de nós, e é ter “os mesmos sentimentos que foram os de Jesus Cristo”, do começo ao fim de sua vida terrena, um lava-pés, um serviço aos semelhantes. Em suma, para se aproximar da Eucaristia, há de se viver o espírito do lava-pés, para que assim se realizem as palavras de Jesus: “Sabendo disso, vós sereis felizes, se o praticardes” (Jo 13,17).  


Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM

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