Reflexão do Evangelho de Quarta-feira – 09 de Abril

Reflexão do Evangelho de Quarta-feira – 09 de Abril
Jo 8, 31-42: Jesus e  Abraão

                  Mais uma vez, a incompreensão reina no coração dos adversários de Jesus. O evangelista S. João lembra que não basta ter começado a crer. Os momentos difíceis e as horas de angústia querem dispersar a fé. É necessário continuar a crer, não desanimar e, sem largar o leme da confiança, prosseguir o caminho, pois alguém segura nosso braço e conduz-nos para onde não tínhamos imaginado. No horizonte brilha uma luz, provinda das palavras do Senhor, escritas por S. João, no assim denominado “Evangelho da perseverança”. Não basta dizer que crê em Deus para fazer, automaticamente, parte da descendência de Abraão. Muitos assim o fazem, indevidamente. Lá estão os seus adversários, apregoando serem “da posteridade de Abraão” e afirmando não terem sido jamais “escravos de alguém”.
Jesus os reenvia ao Pai e proclama ser presença especial dele, pois “antes que Abraão nascesse eu sou” (v.58). A questão não é cronológica. Assim pensaram os que o ouviam. É a afirmação de ser Ele o Filho único do Pai e de ter o conhecimento perfeito dele, segredo de sua filiação, que Ele deseja comunicar a todos os que o seguem. Essas palavras vão além da insistência pomposa das afirmações dos fariseus e doutores da Lei, levando os apóstolos à grande verdade: a própria divindade do Pai pertence igualmente a Jesus e suas palavras nos comunicam não só o conhecimento do Pai, mas também a posse de tudo quanto o Pai possui e que Lhe é dado.  
        O moralismo dos adversários torna-se secundário diante do forte espírito moral que é o cerne de suas palavras, convocando-os a crer nele e a viver a sua mensagem. Mas toda essa sólida apresentação de Jesus se perde, pois eles não querem compreender que Jesus lhes oferece participar da própria filiação do Filho único e eterno.  Permanecem presos ao fato de serem da descendência de Abraão e não abrem os olhos do coração, como Nicodemos, para nascerem de novo, do alto, pois só então seriam filhos “gerados de Deus”, não escravos, mas livres, verdadeiramente filhos (tékna) de Abraão. E, de modo solene e cheio de ternura, Jesus repete: “Se, pois, o Filho vos libertar, sereis, realmente, livres”. Serão livres (eleutheroi) não no sentido político e social, mas sim na grata acolhida de sua palavra, fogo acrisolador, que os libertará das amarras da escravidão do pecado. Caso contrário, permanecerão, filhos do Mal, presos ao orgulho e à mentira. Uma posição neutra é impensável.

Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM


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