Reflexão do Evangelho de Segunda-feira – 28 de Abril - Jo, 3, 1-8: Encontro com Nicodemos (I)

Reflexão do Evangelho de Segunda-feira – 28 de Abril
Jo, 3, 1-8: Encontro com Nicodemos (I)

         As palavras de Jesus deixavam uma impressão forte em todos os que o ouviam. Um deles foi Nicodemos, que o procura no silêncio da noite, às escondidas, querendo evitar a crítica dos demais membros do Sinédrio. Ao chegar, ele saúda Jesus: “Rabi, sabemos que vens da parte de Deus, como um mestre, pois ninguém pode fazer os sinais que fazes se Deus não estiver com ele”. Ouvindo-o e compreendendo o que se passa em seu coração, Jesus retruca-lhe: “Em verdade, te digo: quem não nascer do alto não pode ver o Reino de Deus”.  Cada momento é importante para o Mestre. Por isso, suas palavras soam para Nicodemos, como um apelo à conversão, a uma guinada espiritual na vida. Admirado pela inesperada e imediata reação de Jesus, ele procura defender-se: “Nascer de novo, como pode isto acontecer?” Seu coração está inquieto e confuso. Sua voz assume um tom áspero, ao rebater as palavras do Senhor: “Pode alguém voltar ao seio de sua mãe e nascer de novo?” Mas agora, com uma doce ironia, é Jesus que lhe responde: “Tu mestre em Israel e não sabes essas coisas”. Porém, diante da dificuldade de ele admitir a ideia de “nascer de novo”, Jesus passa a desenvolver o sentido do “nascer do alto”: “Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus. O que nasceu da carne é carne, o que nasceu do Espírito é espírito. Não te admires de eu te haver dito: deveis nascer do alto”. Ei-lo diante do combate interior, espiritual, que ele não tinha enfrentado para valer. Ele persiste no sonambulismo cotidiano e não consegue livrar-se das areias profundas, que em sua alma encobrem a fonte de água viva.  
         O diálogo estende-se, Nicodemos continua sem entender. Ele não se rende. Quase num último esforço, o Mestre refere-se ao vento que sopra onde quer, ouve-se o seu ruído, mas não se sabe donde vem, concluindo: “Assim acontece com todo aquele que nasceu do Espírito”. Palavras que colocam Nicodemos diante do mistério em cujo limiar os doutores da Lei esbarravam: a liberdade. Jesus não só fala da liberdade, mas assegura ser Ele a verdade da liberdade, de modo que quem nasce do alto, guiado pela fé, situa-se para além das práticas rituais e dos cultos. Este não descura a Lei, mas, nascido do alto, torna-se livre diante dela. Portanto, é pelo poder do alto, unicamente, que Nicodemos poderá renascer e reconhecer-se filho de Deus, membro do seu Reino.
        Comovido, Nicodemos sente suas dúvidas se dissiparem. Nada lhe impede de nascer do alto e participar, na pessoa de Cristo, da presença do amor e da graça divina. Após este diálogo, ele segue Jesus e sua vida vem a ser um convite para nós: afastar-nos das trevas da ignorância e do pecado, deixando brilhar em nós a luz divina. Se Jesus bateu à porta do coração de Nicodemos, também bateu à nossa porta e, caso bebamos a água viva, renasceremos do alto e “endossaremos as vestes da luz inefável. Então, nosso homem interior será confirmado na experiência e na plenitude da acolhida ilimitada de Jesus e participaremos, desde já, da vida eterna” (Pseudo-Macário).


Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM

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