Reflexão do Evangelho - Quarta-feira, 16 de novembro
Reflexão do Evangelho
Quarta-feira, 16 de novembro
Lc 19,11-28 - Parábola dos talentos
Jerusalém está bem próxima. Jesus
já antevê a cruz como o serviço supremo a ser realizado por Ele para a salvação
da humanidade. Nessa situação de expectativa, compreende-se o fato de os
discípulos pensarem que o Reino de Deus ia se manifestar imediatamente. Por
isso, visando arrefecer o entusiasmo pela instauração próxima do Reino, Jesus
lhes conta a parábola dos talentos.
Um homem, de nobre origem, viaja
para longe e distribui a dez de seus servos uma quantidade de bens materiais
ou, no dizer bíblico, alguns talentos, que eles deverão restituir com lucro. A
confiança depositada neles é grande, pois eles poderiam usar seu dinheiro como
bem entendessem. Alguns são fiéis e multiplicam o que receberam, obtendo a
devida recompensa. Mas um deles, que os guardou embrulhados num lenço e nada
lucrou, tem como punição a transferência, até do que lhe tinha sido entregue,
aos servidores fiéis.
Segundo a parábola, cabe a cada um a
responsabilidade de produzir mais ou perder tudo. Em termos espirituais, ou o
discípulo avança em direção a Deus ou retrocede, pois a vida espiritual é
compreendida como um combate incessante, denominado “luta invisível”, em que o
fato de não produzir torna-se uma regressão. Os dons recebidos, sem ofuscar a
beleza da mensagem evangélica, fecundam a vida humana em seu ser e agir, pois,
sem destruir a liberdade, eles aperfeiçoam o ser humano, permitindo-lhe
tornar-se mais plenamente ele mesmo por seu próprio esforço. S. Boaventura
observa: “O dom de Deus, se ele for acolhido, torna o homem mestre dele e do
universo. A criação não será um oceano de passividade. Ela é Deus infinitamente
fecundo, engendrando filhos, que conduzem a Ele a criação inteira e a
humanidade; não meras pedras inanimadas, mas membros vivos” (Étienne Gilson).
Esse crescimento ou ascensão, que
converge para a grandeza indizível da vida em Deus, é gradual, e pressupõe
construir, constantemente, sobre os talentos recebidos. O ponto de partida é a
visão realista de si mesmo, pois, segundo S. Isaac, “aquele que conhece a si
mesmo é maior do que aquele que viu os anjos”, e o princípio-chave, que o
orienta, se expressa na fórmula: “Gratia supponit et perficit naturam”, que
implica uma experiência direta do Criador, pois aperfeiçoada pela graça, a natureza
cruza o portal da esperança para participar da
comunhão com Deus. Natureza e graça não se opõem, nem se justapõem, mas
é pelo dom da graça que a natureza atinge, justamente, a sua perfeição:
restaurado por Cristo, o ser humano vive, efetivamente, a “amizade com Deus”.
Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM
DEUS lhe abençoe e lhe ilumine. Obrigado p/ reflexão D. Fernando.
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