Reflexão do Evangelho - Sábado, 19 de novembro



Reflexão do Evangelho
Sábado, 19 de novembro
Lc 20,27-40 - Ressurreição dos mortos


    Pelo fato de impedir a realização temporal do seu projeto de futuro, a possibilidade da morte causa angústia e sofrimento ao ser humano. Porém, o ser humano não se limita à realidade física, nem é absorvido por ela, mas, graças à sua consciência, ele se ultrapassa e projeta, na dimensão futura, seu desejo de unidade e de comunhão. Então, ele se compreende como vida em comunhão e como comunhão de vida, que é perpetuada no amor e na misericórdia de um Deus, que “não é, diz Jesus, um Deus de mortos, mas sim de vivos”.  
Lá estavam, ouvindo Jesus, os saduceus, que não admitiam nada além do que seus olhos podiam constatar. Por isso, tentando mostrar que a ressurreição dos mortos resulta inútil e mesmo impossível, eles recordam o Pentateuco, segundo o qual, “se um homem morre sem filhos, seu irmão deverá casar com a viúva, para dar descendência ao irmão defunto”. É a lei do levirato. Pois bem, eram sete irmãos e todos a tiveram como esposa sem deixar filhos. Caso houvesse ressurreição, “de quem a mulher seria esposa?”. Portanto, é inconcebível falar de uma vida futura, pois nos céus, eles estariam disputando pela mulher, que lhes tinha pertencido, sucessivamente. Contrariando as palavras do Mestre e mesmo procurando ridicularizá-lo, eles concluem que não se pode falar de uma vida futura: para eles, ela se limita à realidade humana.
No entanto, de modo enfático, Jesus diz estarem eles “no erro” e os acusa de “não conhecerem as Escrituras”, declarando, com firmeza, que, desde o começo, estas falam do poder do espírito, sopro vital, presença da vida que é mais forte que a morte. Nesse sentido, dirá S. Agostinho: “Uma vida sem eternidade é indigna do nome de vida. Verdadeira é só a vida eterna”. Para Jesus, os saduceus desvirtuaram a Lei de Deus, porque a imortalidade é mais do que a sobrevivência; é vida feliz do homem junto de Deus, destino previsto e que Ele veio, justamente, restaurar. A propósito, ao pedido do bom ladrão: “Jesus, lembra-te de mim quando chegares ao teu reino”, Ele comunica-lhe esperança e conforto: “Em verdade te digo: ainda hoje estarás comigo no paraíso”. A morte não é só o último ato da vida terrena, mas é também o momento de encontro do homem com Aquele que é plenitude de vida. No mesmo sentido, S. Hilário de Poitiers interroga-se: “Podia o Deus imortal dar-nos uma vida sem outro horizonte que a morte? Podia inspirar-nos tanto desejo de viver, se não pudéssemos ir além dos horrores da morte?”.
Essa vida feliz e eterna, no final de nossa peregrinação terrena, dependerá da decisão definitiva, que tomarmos diante de Deus, no momento de nossa passagem, livres dos condicionamentos e dos limites próprios da natureza terrena. Então, de acordo com as decisões tomadas ao longo da vida, optaremos por uma vida de abertura e de comunhão ou pelo fechamento sobre nós mesmos: ou se entrega totalmente a Deus e vive o amor, ou se priva dele e se fecha aos outros, isolando-se.




Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM


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