Reflexão do Evangelho - Quarta-feira, 2 de novembro – Finados



Reflexão do Evangelho
Quarta-feira, 2 de novembro – Finados
Saudade sim, tristeza não!
   

Entre os primeiros cristãos, havia o costume de rezar pelos mortos e de celebrar a missa de corpo presente. como atestam os sacramentários romanos, por ocasião do falecimento de um deles. Quando isso não era possível, devido às perseguições, celebrava-se mais tarde, dando origem às missas de sétimo e trigésimo dia.
Nesse mesmo período, iniciou-se a prática, presente ainda em nossos dias, de fazer a memória dos mortos e dos vivos nas celebrações eucarísticas. Seus nomes eram então guardados em registros denominados Libri Vitae (Livros da Vida), posteriormente designados necrologias e obituários, passando das menções generalizadas às individuais. Com o passar do tempo, consolidou-se uma preocupação: a lembrança de todos os demais falecidos que, por algum motivo, não constavam nas listas. Para preencher esta lacuna, decidiu-se estabelecer um dia do ano para se rezar na intenção litúrgica de todos os que passaram desta vida. Por volta dos anos 1024 e 1033, foi escolhido, como dia consagrado à oração pública e universal por todos os falecidos, o dia 2 de novembro, o tão conhecido Dia de Finados, por ser o dia litúrgico que se segue à festa de Todos os Santos.
Desde o início, o conteúdo principal da celebração não era a morte, mas sim a fé na Ressurreição e, consequentemente, a esperança de se estar um dia perante Deus em sua morada. A celebração do dia de Finados antecipa a vida feliz e eterna em Deus. Agradece-se a Deus a existência dos antepassados e acende-se uma vela, proferindo uma oração, para recordar a luz da fé que nos iluminou, através de nossos pais, avós, parentes e amigos. Luz que não se extinguiu com a passagem deles para a eternidade de Deus, mas que se perpetua em nossos corações. As flores depositadas em suas sepulturas prenunciam o alegre reencontro na ressurreição dos mortos.
    No Dia de Finados, rezamos não aos mortos, mas pelos mortos, pois todos, os vivos e falecidos, participam da comunhão dos Santos, comunhão que jamais se extingue. Nesse sentido, escreve S. Ambrósio: “Para não ser de novo a morte o fim da natureza humana, foi dada a nós a ressurreição dos mortos. Assim, refulge em nossos corpos a morte de Cristo, aquela ditosa pela qual o ser exterior é consumido e o homem interior é renovado. Desfaz-se a habitação terrena, e abre-se para nós a habitação celeste”. Podemos, então, dizer: sem perder nossa identidade, no encontro pessoal com Deus e com os irmãos, “ganhamos uma nova existência corporal enquanto nosso corpo terrestre é levado à sepultura”: é a transfiguração, que nos permite aguardar, na serena alegria da comunhão com Deus, a ressurreição final. Pois, “desfeito o nosso corpo mortal, nos é dado, nos céus, um corpo imperecível” (Prefácio da Missa dos mortos).
Na realidade, a palavra morte, do latim mors, mortis, traz em geral, uma sensação de tristeza e de medo. O próprio Jesus, no Horto das Oliveiras, sentiu angústia e chegou a suar sangue. No entanto, Ele acolhe a morte e todo o sofrimento que ela comporta, oferecendo-a ao Pai em nosso favor. A oferta de sua vida realiza a nossa salvação e consolida a esperança da humanidade, de modo a enxugar as lágrimas do nosso coração e transformar a tristeza, sentida na hora da morte de um ente querido, em saudade. Por isso, na certeza de que os laços inquebrantáveis do amor eterno e fiel de Deus nos enlaçam e antecipam nosso reencontro no Reino dos Céus, com S. Gregório de Nazianzo, suplicamos: “Desde já, recebe-nos ó Pai, unidos a todos os que partem para aquela feliz e intérmina vida que está em Cristo Jesus”. Saudade sim, tristeza não!



Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Reflexão do Evangelho de Lc 9, 51-56 - Jesus não é acolhido pelos samaritanos - Terça-feira 30 de Setembro

Reflexão do Evangelho de Jo 7,37-39 - Promessa da água viva - Sábado 07 de Junho

Reflexão do Evangelho de Lc 11, 5-13 – A oração perseverante (amigo importuno) - Quinta-feira 09 de Outubro