Reflexão do Evangelho de Jo 10, 22-30: Jesus se declara Filho de Deus - Terça-feira – 13 de Maio
Reflexão do Evangelho
de Jo 10, 22-30: Jesus se declara Filho de Deus
Terça-feira – 13 de Maio
É a festa da
Dedicação do Templo em recordação à sua reconquista por Judas Macabeu, no ano
164 a.C. Jesus encontra-se, justamente,
“andando sob o pórtico de Salomão” e suas palavras perturbavam tanto os judeus
quanto os gregos, que viam nele um simples mortal, inspirado por Deus. Outros atribuíam
a Ele uma mera aparência humana. A curiosidade é grande, não menos a maldade
presente em seus corações. Os Evangelhos descrevem-no como um homem comum, que
conheceu a alegria e a dor, a tentação e a morte, tornando seus “a carne e o
sangue”, no dizer de Santo Irineu, mas também a inteligência, a vontade e a
consciência humana. Os judeus o rodeiam e lhe perguntam se Ele é ou não de fato
o Messias. E se o é porque então Ele se apresenta igual a Deus, pois a figura
do Messias supõe um rei terrestre, que iria estabelecer um reino de justiça e
de paz. Essa visão materialista do reino messiânico parece ser, para eles, ainda
mais forte pela opressão romana a que estão submetidos.
O silêncio de Jesus é
constrangedor. O evangelista fala de que “era inverno”, para significar, diz S.
Agostinho, “que o coração de seus ouvintes estava gelado, pois não se deixavam
aquecer pelo Fogo divino, do qual só se aproxima pela fé”. Já impacientes, eles
insistem: “Até quando nos manterás em suspenso?” E chegam a pedir que lhes fale
“abertamente”, talvez, pelo fato de Ele lhes falar, muitas vezes, “em
parábolas”. Jesus é cauteloso. Não diz ser o Cristo para que não o interpretem
como o Messias guerreiro e político, mas de modo direto e simples, responde-lhes:
“Já vo-lo disse, mas não acreditais. As obras que faço, em nome de meu Pai, dão
testemunho de mim; mas vós não credes porque não sois das minhas ovelhas”.
Portanto,
bastavam-lhes os sinais realizados por Ele, ao longo de seu ministério público,
como a cura do cego e tantos outros milagres. Ora, são esses sinais que testemunham
quem é Ele. Mas eles não acreditam e, pior ainda, querem apedrejá-lo, “porque
sendo homem, dizem eles, tu te fazes Deus”. O título “Filho de Deus” era
adotado por muitos reis do antigo Oriente, mas Ele o assume em um sentido novo,
falando de uma intimidade e realidade com o Pai, que exprimem uma unicidade sem
precedente. De fato, suas palavras revelam uma misteriosa certeza, refletida em
suas pregações e atividades: que o Reino de Deus tornava-se presente no mundo
com Ele, Reino da misericórdia e do amor ilimitado, sem excluir a mais exigente
justiça.
Se
alguns dos ouvintes o rejeitam, outros, os que pertencem ao seu rebanho,
escutam a sua voz e o seguem. “A estes, diz Jesus, eu dou a vida eterna” e eles
jamais se perderão, pois Ele os recebeu do Pai e ninguém, mesmo que venha com a
audácia do ladrão ou com a violência do salteador, poderá arrancá-los de suas
mãos. O poder soberano do Pastor, jamais abalado, preservará as ovelhas do
ataque inimigo. Essas palavras sensibilizam seus discípulos e lhes transmitem
profunda confiança, preparando-os para a declaração final: “Meu Pai, que me deu
tudo, é maior que todos”, numa referência, segundo S. Agostinho, à natureza e
ao poder divinos conferidos pelo Pai a Ele, nosso divino Pastor.
Um mal-estar toma
conta dos seus inimigos, pois Jesus deixa claro a relação de unidade com o Pai,
que aparece como privilégio seu, que só a Ele pertence, levando-o a concluir: “Eu
e o Pai somos um só”. Os judeus, que o interrogam, sentem eriçarem-se seus
cabelos de indignação. Mas Jesus permanece sereno em sua bondade magnânima, e longe
de se retratar, estende a filiação divina a todos os que o acolhem. Assim, os
filhos dispersos da terra são chamados à casa do Pai para participarem da vida
divina. Como filhos adotivos de Deus, eles abrem-se à luz e afastam-se das
trevas.
Dom Fernando Antônio
Figueiredo, OFM
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