Reflexão do Evangelho de Jo 6, 60-69: Esta palavra é dura - Sábado – 10 de Maio

Reflexão do Evangelho de Jo 6, 60-69: Esta palavra é dura
Sábado – 10 de Maio
                            
                 A última parte do discurso sobre o “Pão da Vida”, Jesus a inicia com o solene “em verdade, em verdade, vos digo”. Reafirmando o que dissera, Ele proclama ser o Pão da Vida, “que desce do céu para que não morra quem dele comer”. Apesar do tom firme e tranquilo de sua voz, os discípulos ficam estupefatos com que ouviam. O Mestre fixa seus olhos neles e, com um olhar desconsolado, vê quão distantes eles ainda estão de seus ensinamentos. Mas Ele não esmorece. Com grande paciência e carinho, Ele volta a ensiná-los, proporcionando-lhes mais um tempo para crescerem interiormente. No tocante aos escribas e fariseus, Ele constata neles uma profunda resistência, pois não conseguem admitir o anúncio do Evangelho da graça e da misericórdia. Seus corações estão frios e indiferentes. O Senhor então lança um novo desafio, buscando transformá-los em seu modo de pensar e agir. Sua tentativa não é acolhida, pois apegados à Lei, eles se fecham e mostram-se incapazes de acolher a novidade trazida por Ele. A indignação deles diante de suas palavras leva-o, num como desabafo, a dizer secamente: “Vós não conheceis nem a mim, nem o meu Pai!” 
               Quanto aos discípulos, Jesus depara-se com a dificuldade de eles o compreenderem. “Esta palavra é dura”, dizem eles. A incompreensão dos discípulos não lhe é estranha, pois já anteriormente, ao ser tocado pela hemorroíssa, Ele lhes pergunta: “Quem me tocou?” Jesus quer mostrar-lhes que há dois modos de se aproximar dele: um expresso pela multidão distraída e curiosa, outro, por alguém cheio de fé, como aquela mulher. Sem o entenderem, com um sorriso irônico, os Apóstolos respondem: “Tu vês a multidão que o comprime, e dizes: Quem me tocou?” Em outros momentos, quando a dúvida é mais profunda e reflete a dureza de seus corações, Jesus mostra-se mais severo e duro para com eles. Chega a recriminá-los pela sua dureza (sklerokardía), sem deixar, no entanto, de concitá-los a sintonizar-se com Ele para avivar a fé em seus corações.
                   Dúvidas e resistências são vencidas. Mas como “muitos discípulos voltaram atrás e não andavam mais com Ele”, Jesus questiona-os: “Não quereis vós também partir?”. A reação dos Apóstolos é imediata. A última palavra deles não é de dúvida. Numa belíssima profissão de fé, diz Pedro: “Senhor, a quem iremos? Só tu tens palavras de vida eterna e nós cremos e conhecemos que tu és o Santo de Deus”. Mais tarde, S. Inácio de Antioquia, a caminho do martírio, exclama: “Vós estais todos unidos, rompendo o mesmo pão que é remédio de imortalidade, antídoto para não mais morrer, mas para viver em Jesus Cristo para sempre. Então, uma só coisa importa: ser encontrado no Cristo Jesus, para a verdadeira vida”. Outro cristão, S. João Crisóstomo, diante do dom concedido pelo Senhor, declara: “Os magos adoraram o corpo reclinado na manjedoura. Não mais no presépio tu o vês, mas sobre o altar”. O corpo eucarístico é presença do corpo histórico de Jesus, nascido de Maria, que, pregado na cruz, sofre a paixão cruenta e, ressuscitado, sobe aos céus. Em sua humanidade eucarística, Jesus compendia o mundo e, como alimento de imortalidade, transfigura-o misteriosamente. Num arrobo místico, confessa S. Ambrósio: “Quem come a vida não pode morrer. Ide a Ele e saciai-vos, porque Ele é o Pão da vida”. 

Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM


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